Quem
é que nunca ouviu a expressão “ir pró maneta”?
Ela
teve origem na má fama de Louis Henri Loison, General de Divisão, Governador do
Palácio de St. Cloud e Comandante da Segunda Divisão do Exército, que esteve em
Portugal nas três invasões francesas.
“Ir pró Maneta” significa "dar cabo de alguém ou
de alguma coisa; destruir, acabar, não ter recuperação".
E isto porque o general Loison perdeu um braço por
causa de um acidente de caça e, enquanto esteve em Portugal, revelou-se um
homem cruel e sem escrúpulos, de extrema ferocidade e malvadez e que exerceu torturas violentas nos presos, sendo responsável por várias mortes.
Quem
é, então, este homem?
Louis Henri Loison (1771-1816) |
Louis
Henri Loison nasce a 16 de maio de 1771 em Damvillers, na região do Rio Mosa,
em França, filho dum deputado à Assembleia Constituinte francesa.
Napoleão Bonaparte (1769-1821) |
General
do exército de Napoleão Bonaparte e reconhecido pela sua bravura, participa, em
junho de 1793, na pilhagem da abadia de Orval, na Bélgica. A rapidez da sua
ascensão é o prémio de verdadeiros talentos militares e duma coragem que
chegava a ser temerária pois não tinha nem apego, nem humanidade, nem elevação
de carácter.
Após
a batalha de Austerlitz, é nomeado Grande-Águia da Ordem Nacional da Legião de
Honra, pela bravura demonstrada naquela batalha.
Entretanto,
no início de 1806, perde o braço esquerdo num acidente de caça, o que o impede
de liderar a sua Divisão nas campanhas desse ano e do ano seguinte.
Participa,
posteriormente, no cerco de Colberg, na Prússia, ao comando de uma Divisão de
reserva, tendo então sido nomeado Governador do novo Reino da Vestfália, que
Napoleão criara para Jerónimo, o seu irmão mais novo.
Jean-Andoche Junot (1771-1813) |
Em
finais de 1807 é nomeado comandante da 2.ª divisão do Corpo de Observação da
Gironda, que, sob o comando do general Junot, invade Portugal. Passa a ser o
homem de mão de Junot para punir os atos de rebeldia dos portugueses.
Isso é
especialmente notório a partir de maio de 1808, perante sinais de uma
insurreição geral, o que leva Junot a encarregar Loison de expedições punitivas
exemplares. Ocupa então diversas povoações portuguesas, de norte a sul,
praticando todo o género de crueldades contra as populações, ferindo, açoitando
e matando quem lhe surge pela frente.
O povo passa a designá-lo por “Luisão” e “Maneta”,
ficando então a usar-se na linguagem popular o lugar comum “ir pró maneta”, em
analogia com o destino fatal de todos aqueles que ele mata.
Nicolas Jean-de-Dieu Soult (1769-1851) |
Finda
a primeira invasão, Loison é enviado, em 1808, para o corpo do marechal Soult,
a quem Napoleão encarregara uma segunda invasão de Portugal, entrando pelo
Norte.
Bom conhecedor do País, Soult envia-o, por diversas vezes, a fim de
pacificar zonas revoltosas ou para cobrir os movimentos do exército francês,
continuando porém a praticar as suas atrocidades contra o povo.
André Massena (1758-1817) |
Fracassada
a segunda invasão, regressa a Espanha mas, em 1810, está de novo ao comando de
uma divisão, integrado agora no corpo de Ney, com o objetivo de entrar em
Portugal, integrando o exército de Massena.
Batalha do Buçaco |
Loison combate na batalha do Buçaco
e ocupa diversas posições defronte das Linhas de Torres. É então escolhido para
comandar o 6.º Corpo, a elite do exército invasor.
A curta passagem de Loison
pelo concelho do Sabugal não dá azo a mais que os normais e puros atos de
guerra, dentre os quais as ações de saque às populações a fim de garantir a
subsistência do exército. Loison é um homem cansado da guerra, que transporta a
fama terrível de general sanguinário e cruel.
A
este propósito veja-se este apontamento do RTP ensina:
A própria imaginação popular inventou versos à sua
volta.
Vejamos este exemplo:
"Entre os títeres generais
entrou um génio altivo
que ou era o Diabo vivo
ou tinha os mesmos sinais...
Aos alheios cabedais
lançava-se como seta,
namorava branca ou preta,
toda a idade lhe convinha.
Consigo três emes tinha:
Manhoso, Mau e Maneta."
Ou este outro exemplo:
"Que generais é que devem
morrer ao som da trombeta?
Os três meninos da ordem:
Jinot, Laborde e Maneta.
O Jinot mai-lo Maneta
julgam Portugal já seu:
É do demo que os carregue
e também a quem lho deu.”
Assim,
“ir pró maneta" teve o significado original de ir para a tortura ou para a
morte. Atualmente, a expressão significar "dar cabo de alguém ou de alguma
coisa", "destruir", "estragar-se", "perder-se e
não ter recuperação".
Muitas
outras atrocidades e campanhas se seguiram, protagonizadas por Loison.
Em
maio de 1812 é enviado por Napoleão para a campanha da Rússia, onde combate
abnegadamente.
Regressado
a França em 1814, passa a comandante de uma região militar. A queda de Napoleão
faz com que passe, em definitivo, à posição de reformado.
Luís XVIII (1755-1824) |
Já
terminado o Império de Napoleão, o rei Luís XVIII nomeia-o Cavaleiro da Ordem
de São Luís e, logo a seguir, Comandante da 5.ª divisão.
Retirado
compulsivamente do ativo em 15 de novembro de 1815, morre nas suas terras de Chikel,
perto de Liège, no recém-criado Reino dos Países Baixos, a 30 de dezembro de
1816, aos 45 anos, após 20 anos de pilhagens sob a capa de General da revolução
e do Império franceses.
Arco do Triunfo, Paris |
O seu
nome encontra-se inscrito no Arco do Triunfo, em Paris, na secção virada para
Oeste.