29 de maio de 2020

Posted by Biblioteca de E.B.2,3 de Paço de Sousa in | maio 29, 2020

Com esta publicação terminamos hoje a proposta que fizemos de, à terça e à sexta de cada semana deste mês de maio, podermos conhecer uma migalha da literatura, da história e das belezas de cada um dos nove Países que integram a CPLP, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa.

Como notaram, saltámos a Guiné Equatorial. 



Quando a CPLP foi criada, a 17 de julho de 1996, a Guiné Equatorial pediu o estatuto de observador da organização baseado no facto de ter sido uma colónia portuguesa entre os séculos XV e XVIII e de ter alguns territórios onde as línguas crioulas baseadas no português são faladas. 


Malabo, capital da Guiné Equatorial
Porém, por diversas razões, este país só integrou a CPLP em julho de 2014, na X Cimeira realizada em Díli, capital de Timor-Leste. Por conseguinte, na Guiné Equatorial não existem contos ou literatura em língua portuguesa e por isso, não o incluímos neste périplo.

Assim, e por ordem alfabética, acabamos em… TIMOR-LESTE!



Oficialmente República Democrática de Timor-Leste (em tétum: Timor Lorosa'e), é um dos países mais jovens do mundo, com 14 874 quilómetros quadrados de extensão territorial, e ocupa a parte oriental da ilha de Timor, no Sudeste Asiático, além do enclave (em geografia política, é um território com distinções políticas, sociais e/ou culturais cujas fronteiras geográficas ficam inteiramente dentro dos limites de um outro território) de Oe-Cusse Ambeno (na costa norte da parte ocidental de Timor), da ilha de Ataúro, a norte, e do ilhéu de Jaco, ao largo da ponta leste da ilha. 


Ilha de Jaco, Timor-Leste
As únicas fronteiras terrestres que o país tem ligam-no à Indonésia, a oeste da porção principal do território, e a leste, sul e oeste de Oe-Cusse Ambeno, mas tem também fronteira marítima com a Austrália, no Mar de Timor, a sul. A sua capital é Díli, situada na costa norte.


Díli, Timor-Leste
O nome "Timor" deriva de Timur, a palavra para "leste" em indonésio e malaio, que se tornou Timor em português, como era conhecido o Timor Português. Como "leste" é a palavra portuguesa para "leste", resultou assim "Timor-Leste" (Leste-Leste). Lorosa'e (aceso "sol nascente") é a palavra para "leste", em tétum, para Timor Lorosa'e.


Praia de Baucau, Timor-Leste
O mais novo país da CPLP país foi colonizado pelo Império Português a partir do século XVI e foi chamado Timor Português até a descolonização do país. 


No final de 1975, Timor-Leste declarou a sua independência mas, no final daquele ano, foi invadido e ocupado pela Indonésia, sendo anexado como a 27.ª província do país no ano seguinte. 



Em 1999, após um ato de autodeterminação patrocinado pelas Nações Unidas, o governo indonésio deixou o controlo do território e Timor-Leste tornou-se o primeiro novo Estado soberano do século XXI, a 20 de maio de 2002. 



Após a independência, o país tornou-se membro das Nações Unidas e da CPLP. É um dos dois únicos países predominantemente cristãos no sudeste da Ásia (o outro é as Filipinas).
A língua mais falada em Timor-Leste foi o indonésio (no tempo da ocupação indonésia) mas hoje é o tétum (mais falado na capital). 



O tétum e o português formam as duas línguas oficiais do país, enquanto o indonésio e a língua inglesa são consideradas línguas de trabalho pela atual constituição de Timor-Leste.



A sua bandeira é predominantemente de cor vermelha (representando a luta pela libertação do país) com um triângulo isósceles (dois lados iguais e um diferente) de cor preta (representando o obscurantismo do passado que é preciso vencer) do lado esquerdo, com uma cunha de cor amarela (representando as marcas do colonialismo) e, no centro, uma estrela de cinco pontas de cor branca (representando, tão só, a paz).

Com a ilustração seguinte, vamos dar-te a conhecer um conto tradicional deste povo:

Bosco

TIMOR-LESTE
A Voz do Liurai de Ossu

“No princípio do século, o Liurai de Ossu entregou ao ocupante uma arma tida como relíquia maubere e acompanhou a entrega com a afirmação de que ele não mais voltaria a fazer a guerra.
Desde sempre as florestas mauberes têm sido templos sagrados e lugares de segredos. E, pelo menos há quinhentos anos, pessoas estranhas de várias nações entram e atravessam esses sítios sem serem capazes de entendê-los.
Quer espreitando, quer escutando, o que fica por ver e por ouvir é sempre mais do que o necessário para já não se compreender a vida interior e os propósitos mauberes. É que é preciso ver mais para lá e, também, ouvir mais para lá. E avaliar, sobretudo avaliar, a luz das vozes.
Mil segredos e projetos mauberes estão guardados por famílias, sacerdotes, liurais e outros chefes desde há séculos para somente serem revelados quando tiverem de o ser. Todos os mauberes sabem disto — e muitos, até, o têm dito ao longo dos tempos. Porém, ninguém estrangeiro foi ainda capaz de penetrar na história maubere até ao fundo dos fundos.
É por isso que quase tudo dos mauberes ainda está por dizer, é por isso que o verdadeiro sentido de muitos e muitos factos, mesmo dos revelados diante do testemunho do povo, ainda está por explicar completamente. Como aquele gesto do Liurai de Ossu…
Há uns setenta anos, o liurai decidiu oferecer ao ocupante uma espingarda tida como relíquia maubere. Depois de todas as cerimónias do estilo, o Liurai de Ossu, rodeado de chefes e de sacerdotes, autorizou que trouxessem, da floresta sagrada onde já estava há um tempo imenso, essa arma – uma comprida espingarda de um cano para aí de dois metros e meio de comprimento. O ato parecia de homenagem ao ocupante e as palavras, então por ele ditas, de inconsciente humildade:
– Nós já não precisamos de armas.
– Porquê? – perguntou o ocupante.
– Porque nunca mais faremos a guerra!
Os Sacerdotes e os Chefes repetiram:
– Não precisamos de armas porque nunca mais faremos a guerra!
Outros liurais, chefes e sacerdotes, por certo disseram o mesmo:
– ]á não precisamos de armas porque nunca mais faremos a guerra.
Mas palavras destas sempre foram ditas fora da floresta. Dentro dela, nunca! Porque na floresta somente se rezava liberdade.
Ainda hoje, meninas e meninos, mulheres e homens rezam lá liberdade.

E há quem diga ainda ouvir, a roçar pelas árvores, a voz do liurai de Ossu a rezar liberdade.”

Esperamos que tenhas gostado de fazer esta viagem pelo nosso planeta e pela nossa casa que é, no dizer de Fernando Pessoa, a língua portuguesa.

Está dado o mote. Vais continuar?