12 de maio de 2020

Posted by Biblioteca de E.B.2,3 de Paço de Sousa in | maio 12, 2020
E continuamos, como prometido, à terça e à sexta de cada semana deste mês de maio, a descobrir um bocadinho da literatura, da história e das belezas de cada um dos nove Países que integram a CPLP, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Assim, hoje, e por ordem alfabética… CABO VERDE!


Oficialmente República de Cabo Verde, independente desde 1975, é um país/arquipélago formado por dez ilhas vulcânicas, na região central do Oceano Atlântico, a cerca de 570 quilómetros da costa da África Ocidental, sendo a maior a de Santiago, a sudeste, onde se situa a cidade da Praia, a capital. 
Cidade da Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde
O nome do país provém do vizinho Cabo Verde, o ponto mais ocidental da África continental, pertencente ao Senegal, uma península ocupada pela cidade de Dacar, avistado por exploradores portugueses em 1444, alguns anos antes de as ilhas serem, em 1460, descobertas por eles.

Cabo Verde no Senegal

À esquerda, as dez ilhas do arquipélago de Cabo Verde.
À direita, o cabo chamado Verde, no Senegal.
No meio, o Atlântico.
O arquipélago prosperou e muitas vezes chegou a atrair corsários e piratas, entre eles Sir Francis Drake, na década de 1580. 

Sir Francis Drake (1540-1596)
As ilhas também foram visitadas pela expedição de Charles Darwin em 1832.

Charles Darwin (1809-1882)
Embora também se fale crioulo, a sua língua oficial é o Português.
Praia de Chaves, Boavista, Cabo Verde
A bandeira de Cabo Verde apresenta um círculo de dez estrelas amarelas, representando as dez ilhas do arquipélago, sobre um fundo azul que simboliza o imenso Atlântico. A linha horizontal vermelha debruada a branco representa a localização do arquipélago quanto à latitude.

Com a ilustração seguinte, vamos dar-te a conhecer um conto tradicional deste povo:

Renato Rodyner
CABO VERDE
Os Rapazes, o Velho e o Burro

"Era uma vez, um homem que tinha três filhos e moravam no cume de uma serra.
Certo dia, o pai morreu e os três rapazes ficaram sem saber para onde ir.
Do alto da serra os rapazes viram as festas de São João, que acontecem todos os anos na
região, onde todos faziam uma fogueira e saltavam três vezes dizendo: “Sarna no lume e
saúde no corpo!”
Quando os rapazes viram aquilo em todas as casas, disseram entre si: Vamos até lá!
Fizeram três feixes de lenha e levaram com eles.
As pessoas da aldeia ficaram encantadas com a presença deles, abraçaram-nos, deram-lhes
de comer e de beber.
Quando os rapazes iam se retirar, as pessoas perguntaram:
– Já se vão embora, e não dão uma festa?
Os rapazes responderam:
– Vamos dar sim senhor! E garantimos que arranjamos os ingredientes para festa
mesmo sem dinheiro para comprar!
Um deles disse:
– Eu dou o grogue!
O outro disse:
– Eu arranjo a carne!
E o terceiro disse:
– Eu arranjo a mandioca!
E assim, eles comprometeram-se a dar a festa.
Isto se passou no tempo do finado João Henrique, um antigo comerciante que residia na
cidade de São Filipe, na ilha do Fogo.
O que se comprometeu com o grogue, agarrou no garrafão, lavou-o muito bem, encheu
com água do mar, foi à porta do tal comerciante e disse:
– O Senhor tem grogue aí?
O comerciante foi buscar um garrafão cheio de grogue e pousou ao lado do garrafão cheio
de água.
O rapaz destapou-o, cheirou-o e disse ao comerciante:
– Estou à espera de umas pessoas que ficaram de vir buscar-me.
E por isso ficou um bocado na loja a fingir que estava à espera.
O pobre comerciante acabou por se esquecer da presença do rapaz, que de repente diz:
– Bem, acho que vou andando e não vou poder levar este grogue.
E antes que o homem desse por isso pegou no garrafão com grogue verdadeiro e deixou
o cheio de água para ser guardado pelo comerciante.
Chegou em casa e disse aos irmãos:
– Meninos, já tenho o grogue!
O outro irmão, esperou amanhecer e disse:
– Eu também vou!
Pegou a estrada e encontrou um homem com doze galinhas e disse a ele:
– Essas galinhas são para vender?
O homem disse que sim! São para vender!
E o rapaz respondeu:
– O senhor padre encomendou-me doze galinhas porque o senhor bispo vem hoje jantar, vou levar o senhor vendedor até ao padre.
Quando chegaram à igreja, ele disse ao homem para esperar lá fora, entrou na igreja, voltou-se para o padre e disse:
– Senhor padre, vim até aqui com um homem que tem o demónio no corpo, é para o senhor tirar!
O padre respondeu que quando acabasse a missa tirava o demónio do corpo do homem.
O rapaz foi lá fora e disse ao homem para esperar que o padre iria pagar depois da missa, agarrou nas doze galinhas e foi-se embora.
Quando acabou a missa o homem foi ter com o padre exigindo o pagamento pelas doze galinhas.
O padre surpreso disse que não sabia de pagamento nenhum, o homem ficou furioso e começou a berrar, o padre como achava que de um demónio se tratasse, benzeu-o, rezou-o, açoitou-o e correu com ele!
Quando o irmão chegou em casa com as doze galinhas o terceiro disse:
– Vou à procura da mandioca!
Chegou à Ribeira de Montinho e escondeu-se. Depois de um tempo viu um homem já de uma certa idade a vir devagar com um burro que carregava um saco de mandioca às costas.
O burro vinha atrás do velho.
O rapaz, encostou-se ao burro devagar, tirou a corda do pescoço do burro e colocou no seu próprio pescoço e deu um pequeno jeito ao burro que foi descansar no arvoredo.
O rapaz veio silencioso atrás do velho, com a corda ao pescoço.
Numa certa altura, o rapazinho que se fingia de burro parou, o velho puxou a corda e como o burro não vinha, falou:
– Mas o que se passa?
E Burro, que na verdade era o rapazinho a fingir disse ao velho:
– Julgas que depois de tanto tempo a andar com o senhor eu não posso tornar-me gente?
E deu dois coices ao pobre senhor que, baralhado, fugiu a correr!
O rapazinho voltou atrás, agarrou no burro e no saco de mandioca e foi para casa onde fizeram uma grande festa!
Porém o burro era muito magro e estava tão esfomeado que limpou a erva das propriedades de toda a zona, por isso um dia mandaram um recado ao velho para que ele viesse buscar o burro.
O homem, que já havia sido repreendido pela mulher por ter chegado em casa sem a mandioca, sem a corda e sem o burro, aceitou ir até lá e recuperar o animal.
E quando o velho encontrou o burro, disse a ele:
– Mas és tu mesmo burro?
E o próprio burro com raiva, virou-se para o homem e disse:
– Quem você queria que eu fosse?
E então o velho correu, foi-se embora, deixou lá o burro e nunca mais quis saber dele!"

Esperamos que tenham gostado do conto, da ilustração e da história e belezas de Cabo Verde.
Então, até sexta-feira!
Boas leituras!