E
continuamos, como prometido, à terça e à sexta de cada semana deste mês de
maio, a descobrir um bocadinho da literatura, da história e das belezas de cada
um dos nove Países que integram a CPLP,
a Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Assim, hoje, e por ordem
alfabética… CABO VERDE!
Oficialmente
República de Cabo Verde, independente desde 1975, é um país/arquipélago formado
por dez ilhas vulcânicas, na região central do Oceano Atlântico, a cerca de 570
quilómetros da costa da África Ocidental, sendo a maior a de Santiago, a
sudeste, onde se situa a cidade da Praia, a capital.
Cidade da Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde |
O nome do país provém do
vizinho Cabo Verde, o ponto mais ocidental da África continental, pertencente
ao Senegal, uma península ocupada pela cidade de Dacar, avistado por exploradores
portugueses em 1444, alguns anos antes de as ilhas serem, em 1460, descobertas
por eles.
Cabo Verde no Senegal |
À esquerda, as dez ilhas do arquipélago de Cabo Verde. À direita, o cabo chamado Verde, no Senegal. No meio, o Atlântico. |
O
arquipélago prosperou e muitas vezes chegou a atrair corsários e piratas, entre
eles Sir Francis Drake, na década de 1580.
Sir Francis Drake (1540-1596) |
As ilhas também foram visitadas pela
expedição de Charles Darwin em 1832.
Charles Darwin (1809-1882) |
Embora
também se fale crioulo, a sua língua oficial é o Português.
Praia de Chaves, Boavista, Cabo Verde |
A bandeira de Cabo Verde apresenta um círculo de dez estrelas amarelas, representando as
dez ilhas do arquipélago, sobre um fundo azul que simboliza o imenso Atlântico.
A linha horizontal vermelha debruada a branco representa a localização do
arquipélago quanto à latitude.
Com a
ilustração seguinte, vamos dar-te a conhecer um conto tradicional deste povo:
Renato Rodyner |
CABO
VERDE
Os Rapazes, o Velho e o Burro
"Era uma vez, um
homem que tinha três filhos e moravam no cume de uma serra.
Certo dia, o pai
morreu e os três rapazes ficaram sem saber para onde ir.
Do alto da serra os
rapazes viram as festas de São João, que acontecem todos os anos na
região, onde todos
faziam uma fogueira e saltavam três vezes dizendo: “Sarna no lume e
saúde no corpo!”
Quando os rapazes
viram aquilo em todas as casas, disseram entre si: Vamos até lá!
Fizeram três feixes
de lenha e levaram com eles.
As pessoas da aldeia
ficaram encantadas com a presença deles, abraçaram-nos, deram-lhes
de comer e de beber.
Quando os rapazes
iam se retirar, as pessoas perguntaram:
– Já se vão embora,
e não dão uma festa?
Os rapazes
responderam:
– Vamos dar sim
senhor! E garantimos que arranjamos os ingredientes para festa
mesmo sem dinheiro
para comprar!
Um deles disse:
– Eu dou o grogue!
O outro disse:
– Eu arranjo a
carne!
E o terceiro disse:
– Eu arranjo a
mandioca!
E assim, eles
comprometeram-se a dar a festa.
Isto se passou no
tempo do finado João Henrique, um antigo comerciante que residia na
cidade de São
Filipe, na ilha do Fogo.
O que se comprometeu
com o grogue, agarrou no garrafão, lavou-o muito bem, encheu
com água do mar, foi
à porta do tal comerciante e disse:
– O Senhor tem
grogue aí?
O comerciante foi
buscar um garrafão cheio de grogue e pousou ao lado do garrafão cheio
de água.
O rapaz destapou-o,
cheirou-o e disse ao comerciante:
– Estou à espera de
umas pessoas que ficaram de vir buscar-me.
E por isso ficou um
bocado na loja a fingir que estava à espera.
O pobre comerciante
acabou por se esquecer da presença do rapaz, que de repente diz:
– Bem, acho que vou
andando e não vou poder levar este grogue.
E antes que o homem
desse por isso pegou no garrafão com grogue verdadeiro e deixou
o cheio de água para
ser guardado pelo comerciante.
Chegou em casa e
disse aos irmãos:
– Meninos, já tenho
o grogue!
O outro irmão,
esperou amanhecer e disse:
– Eu também vou!
Pegou a estrada e
encontrou um homem com doze galinhas e disse a ele:
– Essas galinhas são
para vender?
O homem disse que
sim! São para vender!
E o rapaz respondeu:
– O senhor padre
encomendou-me doze galinhas porque o senhor bispo vem hoje jantar, vou levar o
senhor vendedor até ao padre.
Quando chegaram à
igreja, ele disse ao homem para esperar lá fora, entrou na igreja, voltou-se
para o padre e disse:
– Senhor padre, vim
até aqui com um homem que tem o demónio no corpo, é para o senhor tirar!
O padre respondeu
que quando acabasse a missa tirava o demónio do corpo do homem.
O rapaz foi lá fora
e disse ao homem para esperar que o padre iria pagar depois da missa, agarrou
nas doze galinhas e foi-se embora.
Quando acabou a
missa o homem foi ter com o padre exigindo o pagamento pelas doze galinhas.
O padre surpreso
disse que não sabia de pagamento nenhum, o homem ficou furioso e começou a
berrar, o padre como achava que de um demónio se tratasse, benzeu-o, rezou-o,
açoitou-o e correu com ele!
Quando o irmão
chegou em casa com as doze galinhas o terceiro disse:
– Vou à procura da
mandioca!
Chegou à Ribeira de
Montinho e escondeu-se. Depois de um tempo viu um homem já de uma certa idade a
vir devagar com um burro que carregava um saco de mandioca às costas.
O burro vinha atrás
do velho.
O rapaz, encostou-se
ao burro devagar, tirou a corda do pescoço do burro e colocou no seu próprio
pescoço e deu um pequeno jeito ao burro que foi descansar no arvoredo.
O rapaz veio
silencioso atrás do velho, com a corda ao pescoço.
Numa certa altura, o
rapazinho que se fingia de burro parou, o velho puxou a corda e como o burro
não vinha, falou:
– Mas o que se
passa?
E Burro, que na
verdade era o rapazinho a fingir disse ao velho:
– Julgas que depois
de tanto tempo a andar com o senhor eu não posso tornar-me gente?
E deu dois coices ao
pobre senhor que, baralhado, fugiu a correr!
O rapazinho voltou
atrás, agarrou no burro e no saco de mandioca e foi para casa onde fizeram uma
grande festa!
Porém o burro era
muito magro e estava tão esfomeado que limpou a erva das propriedades de toda a
zona, por isso um dia mandaram um recado ao velho para que ele viesse buscar o
burro.
O homem, que já
havia sido repreendido pela mulher por ter chegado em casa sem a mandioca, sem
a corda e sem o burro, aceitou ir até lá e recuperar o animal.
E quando o velho
encontrou o burro, disse a ele:
– Mas és tu mesmo
burro?
E o próprio burro
com raiva, virou-se para o homem e disse:
– Quem você queria
que eu fosse?
E então o velho
correu, foi-se embora, deixou lá o burro e nunca mais quis saber dele!"
Esperamos que tenham
gostado do conto, da ilustração e da história e belezas de Cabo Verde.
Então, até sexta-feira!
Boas leituras!