11 de maio de 2020

Posted by Biblioteca de E.B.2,3 de Paço de Sousa in | maio 11, 2020
Mário de Sá-Carneiro (1890-1916)
No AUTOR DO MÊS de maio, vamos descobrir Mário de Sá-Carneiro, nascido a 19 de maio de 1890, na rua dos Retroseiros (atual rua da Conceição), em Lisboa, no seio de uma abastada família, sendo filho e neto de militares. 


Lisboa (fins do século XIX)
O seu pai, engenheiro, chamava-se Carlos Augusto de Sá Carneiro e a sua mãe, Águeda Maria de Sousa Peres Murinelo. Órfão de mãe com apenas dois anos (1892), ficou entregue ao cuidado dos avós, indo viver para a Quinta da Vitória, na freguesia de Camarate, às portas de Lisboa, aí passando grande parte da infância. 
Começa a escrever poesia aos 12 anos, sendo que aos 15 já traduzia Victor Hugo e com 16, Goethe e Schiller. No liceu teve ainda algumas experiências episódicas como ator. Em 1911, com 21 anos, vai para Coimbra, onde se matricula na Faculdade de Direito, mas não conclui sequer o primeiro ano. 

Universidade de Coimbra (início do século XX)
Desiludido com a «cidade dos estudantes», segue para Paris a fim de prosseguir os estudos superiores na Sorbonne, com o auxílio financeiro do pai. 

Universidade da Sorbonne, Paris
Cedo, porém, deixa de frequentar as aulas de Direito, dedicando-se a uma vida boémia, deambulando pelos cafés e salas de espetáculo, chegando a passar fome e debatendo-se com os seus desesperos, situação que culmina na ligação emocional a um mulher de ocasião, a fim de combater as suas frustrações e desesperos. 
Mário de Sá-Carneiro conhece, em 1912, aquele que foi, sem dúvida, o seu melhor amigo: o poeta Fernando Pessoa. 

Fernando Pessoa (1888-1935)
Inadaptado socialmente e psicologicamente instável, foi neste ambiente que escreveu grande parte da sua obra poética e a correspondência com o seu confidente Fernando Pessoa; é, pois, entre 1912 e 1916 (o ano da sua morte), que se desenvolve a sua breve – mas fecunda – carreira literária. 
Em 1913 e 1914, Mário Sá-Carneiro viaja para Lisboa com uma certa regularidade, devido ao conflito entre a Sérvia e a Áustria-Hungria, o qual a breve trecho se torna na I Guerra Mundial. 


Corpo Expedicionário Português na I Guerra Mundial (1914-1918)
Com Fernando Pessoa e Almada Negreiros integra o primeiro grupo modernista português (o qual, influenciado pelas vanguardas culturais europeias, pretendia escandalizar a sociedade burguesa e urbana da época), sendo responsável pela edição da revista literária “Orpheu”, editada por António Ferro, e que por isso mesmo ficou sendo conhecido como a Geração d’Orpheu ou Grupo d’Orpheu. 

Almada Negreiros (1893-1970)
Esta revista foi um verdadeiro escândalo literário à época, motivo pelo qual apenas saíram dois números (em março e em junho de 1915; o terceiro, embora impresso, não foi publicado, tendo os seus autores sido alvo de marginalização social). 


Paris (início do século XX)
Em julho de 1915 regressa a Paris, escrevendo a Fernando Pessoa cartas de uma crescente angústia, nas quais ressalta não apenas a imagem de um homem perdido no «labirinto de si próprio», mas também a evolução e a maturidade da sua escrita. 
Uma vez que a vida que tem não lhe agrada, Mário de Sá-Carneiro entra numa cada vez maior angústia, que virá a conduzi-lo ao suicídio, com 25 anos de idade, a 26 de abril de 1916, no seu quarto no Hotel de Nice, no bairro de Montmartre em Paris, onde vivia, com o recurso a cinco frascos de arseniato de estricnina. 


Place du Tertre, Montmartre, Paris

Eis o seu poema Quase, dito pela atriz portuguesa Carmen Dolores:


Carmen Dolores (1924)

Também o seu poema Fim foi musicado por um grupo português no final dos anos 1980, os Trovante:




Mais tarde, também o seu poema O Outro foi musicado pela cantora brasileira Adriana Calcanhoto:


Adriana Calcanhotto (1965)

Em 1914, Mário de Sá-Carneiro publica duas obras: o livro de poemas “Dispersão” e a novela “A Confissão de Lúcio”.



Ora, esta única novela é a sua obra mais emblemática porque contém três das suas obsessões dominantes: o suicídio, o amor e o anormal avançando até à loucura. 
A Confissão de Lúcio” caracteriza-o nas suas angústias e modo de ver a vida. A personagem Lúcio Vaz é quase uma cópia de si próprio, e o enredo é o desejo de alcançar a perfeição de Ricardo de Loureiro, outra personagem da obra, pois todo o drama desta narrativa se desenrola em torno do desejo de o Eu possuir o Outro, ou seja, de Lúcio possuir Ricardo e vice versa. O triângulo amoroso de Lúcio com Marta, mulher de Ricardo, deslinda um final de tragédia: Marta desaparece e Ricardo morre. 
Apresentado sob a forma de romance policial, o conto inicia-se com uma breve introdução, em que o narrador, Lúcio, assumindo-se como autor, justifica o seu objetivo: confessar-se inocente após ter cumprido os dez anos de prisão a que fora condenado pelo assassinato do amigo Ricardo de Loureiro. O narrador promete dizer toda a verdade, "mesmo quando ela é inverosímil", sobre essa morte ocorrida em circunstâncias misteriosas e sem testemunhas, mas considerada judicialmente "crime passional"…

É a nossa sugestão de leitura para maio.
Boas leituras!