12 de maio de 2020

Posted by Biblioteca de E.B.2,3 de Paço de Sousa in | maio 12, 2020
Falemos então hoje da anáfora.
Consiste na repetição de uma mesma palavra ou grupo de palavras no princípio de frases ou versos consecutivos. A repetição tem o objetivo de dar ênfase e tornar mais expressiva a mensagem. 
O vocábulo anáfora tem origem no grego. Ele resulta da junção de dois termos: o prefixo ana, que significa repetição e phero que é um verbo grego que pode ser traduzido por suportar ou manter.


Claro que há muitos outros tipos de repetição de palavras. A título de exemplo falemos apenas destas três:

- epizeuxe (ou paliologia), que consiste em repetir uma palavra sem conjunção, obtendo-se assim um efeito de insistência e intensificação: “E lá a vemos, longe, longe, sobre o mar, leve, leve”.


- anadiplose, que consiste na retoma, na oração seguinte, de uma palavra da oração anterior: “E estávamos contentes. Contentes pela notícia feliz. Feliz como tudo o resto”.


- epanalepse, que consiste em colocar a mesma palavra no início e no fim de uma frase: “Frias estavam as mãos frias”.


Voltemos então à anáfora. É uma figura de estilo muito usada na poesia, na música e na prosa, sobretudo na prosa poética. 
Quanto à poesia, como não lembrar Camões...

Luís Vaz de Camões (1524-1580)
... e a palavra é no seu imortal “Amor é fogo que arde sem se ver”:

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Pois uma letra “inventada” no século XVI continua atual e provocadora. 
Os Pólo Norte são uma banda musical portuguesa, de estilo pop rock, ainda no ativo mas fundada em 1992, na região de Belas, concelho de Sintra, por Miguel Gameiro (vocalista e autor da maioria das canções), António Villas-Boas, Rodrigo Ulrich, Francisco Aragão e Tiago Oliveira. 


Em 1994, a banda publicou o seu primeiro disco intitulado Expedição, no qual se incluíam os seus primeiros sucessos. E, em abril de 2008 publicaram o álbum 15 Anos


Na sua faixa 13 podemos escutar esta peça:



O mesmo se pode dizer no poema “À primeira vista” de Chico César...
Chico César (1964)
... da MPB (Música Popular Brasileira) com a palavra quando:

Quando não tinha nada eu quis
Quando tudo era ausência esperei
Quando tive frio tremi
Quando tive coragem liguei

Quando chegou carta abri
Quando ouvi Prince dancei
Quando o olho brilhou entendi
Quando criei asas voei

Quando me chamou eu vim
Quando dei por mim tava aqui
Quando lhe achei me perdi
Quando vi você me apaixonei

Quando não tinha nada eu quis
Quando tudo era ausência esperei
Quando tive frio tremi
Quando tive coragem liguei

Quando chegou carta abri
Quando ouvi Salif Keita dancei
Quando o olho brilhou entendi
Quando criei asas voei

Quando me chamou eu vim
Quando dei por mim tava aqui
Quando lhe achei me perdi
Quando vi você me apaixonei

Vamos ouvir este poema “À primeira Vista” interpretada por Daniela Mercury:

Daniela Mercury (1965)

E acabámos!

Se tudo correr bem
Se nada for contrário
Se quisermos saber mais…

Cá voltaremos na próxima terça-feira!