No “Às quintas na B.E.” de hoje vamos-te propor uma
visita virtual ao Castelo da Feira, também dito de Vila da Feira ou de Santa
Maria da Feira.
Localizado na freguesia e cidade da Feira (honrada com este
título em virtude do Decreto-lei n.° 39 de 14 de agosto de 1985), no concelho
de Santa Maria da Feira e distrito de Aveiro, foi, no passado, cabeça da Terra
de Santa Maria, e é considerado como um dos exemplos mais completos da
arquitetura militar medieval no país, uma vez que nele se encontra representada
a vasta gama de elementos defensivos empregados nesse período.
Este belíssimo castelo apresenta planta oval
irregular, orientada no sentido norte-sul, em estilo gótico, tendo incorporado
elementos de outros estilos ao longo dos séculos.
A primeira referência documental a esta fortificação
consta no manuscrito "Chronica Gothorum" (anónimo, fins do século
XII), dando conta da vitória de Bermudo III de Leão (1028-1037) sobre um chefe
mouro em terras do Castelo de Santa Maria (1045). Datará deste período a
construção da parte inferior da Torre de Menagem, em alvenaria e cantaria de
pedra, com funções de alcáçova, protegida por uma cerca amuralhada, da qual
restam apenas os vestígios.
Quando o Conde D. Henrique (1095-1112) recebe as terras
do Condado Portucalense em 1095, estas incluem os domínios não apenas deste
Castelo de Santa Maria, mas também do Castelo de Guimarães, do Castelo de Faria
e do Castelo de Neiva. Com o seu falecimento, diante da ascendência do galego
Fernão Peres de Trava sobre a viúva, D. Teresa de Leão, os senhores ao sul do
rio Minho, insatisfeitos, organizam-se em torno do jovem D. Afonso Henriques,
que, entretanto, se arma cavaleiro em 1125.
Parte expressiva desta articulação política terá tido
lugar nas terras e Castelo de Santa Maria, sob o domínio do nobre Ermígio
Moniz, culminando na batalha de São Mamede (Guimarães, 1128), razão pela qual
se afirma ser este monumento o verdadeiro berço da independência de Portugal.
As terras de Santa Maria compreendiam, à época, um extenso domínio que se
estendia, em grandes linhas, do curso do rio Douro até ao sul de Ovar, e de
Oliveira de Azeméis e da orla marítima até ao curso do rio Arda.
No testamento do rei D. Sancho I (1185-1211), redigido
em 1188, este foi o principal dos cinco castelos eleitos pelo soberano para
eventual refúgio da rainha, quando viúva, e das infantas.
Em 1282, o rei D. Dinis (1279-1325) inclui-o entre os
doze castelos assegurados como arras a sua consorte, a Rainha Santa Isabel.
Mais tarde, ainda neste período, é tomado pelas forças do infante D. Afonso, em
luta contra o rei, seu pai.
Quando celebrada a paz entre ambos, por iniciativa
da Rainha Santa (1322), o domínio deste castelo (entre outros) é outorgado a D.
Afonso, mediante o compromisso de menagem prestado por este último ao pai.
Do final do século XV datam as adaptações às demandas
da pirobalística. No seu interior, na ampla praça de armas, encontram-se ainda
os vestígios do antigo palácio seiscentista.
No século XVII constrói-se, dentro dos seus muros, o
Palacete dos Condes da Feira, demolido em 1929, e do qual apenas restam algumas
paredes, a escadaria e o fontenário. Do mesmo período é a edificação da Capela
de Nossa Senhora da Encarnação, sobre outra, mais antiga, da mesma invocação,
por iniciativa de D. Joana Forjaz Pereira de Meneses e Silva, condessa da
Feira, inaugurada em 1656.
Extinta a representação dos condes da Feira em 1700, o
conjunto passa, em 1708, para o património da Casa do Infantado. Em 15 de janeiro
de 1722 um violento incêndio destrói o Castelo, votando-o a um longo período de
abandono e ruína.
No início do século XX renova-se o interesse público
pelo monumento. Uma campanha de subscrição pública angaria fundos para obras de
restauração do imóvel. Por conseguinte, as primeiras obras de recuperação são
executadas pela Direção de Obras Públicas em 1907, sendo visitadas pelo rei
Manuel II (1908-1910) no ano seguinte. Em 1909 é criada uma Comissão de Proteção
e de Conservação do Castelo, tendo se procedido a obras de beneficiação e
restauro.
O castelo é classificado como Monumento Nacional por
Decreto de 16 de junho de 1910, publicado no Diário do Governo n.º 136, de 23
de junho de 1910.
A Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
(DGEMN) executa obras de consolidação e restauro nos períodos de 1935-1936, de
1939-1944 e, mais recentemente, em 1986. Um novo acesso foi aberto desde 1950,
e inaugurada a iluminação exterior do monumento em 1963.
Olhando para o conjunto edificado, desde logo se vê a
porta da barbacã, coroada pelo brasão dos Pereiras e protegida por duas torres
quadrangulares adossadas: a sudoeste, a Torre da Casamata, atrás da qual se
encontra um recinto quadrangular e abobadado onde se alojavam os soldados e que
servia como bateria com troneiras nos muros exteriores; no lado oposto a Torre
do Poço, protegendo uma nascente de água, à qual se acede descendo uma escada
em caracol.
Pela porta da barbacã acede-se, sucessivamente, à
porta da Vila e à praça de armas, na qual se localiza a Torre de Menagem. Esta
torre-alcáçova divide-se em três andares: no inferior, a cisterna; no segundo o
salão nobre, destacando-se três lareiras, um fogão e quatro janelas, três delas
com conversadeiras; no terceiro a área residencial íntima.
A seguir à Torre de Menagem, rematada com os coruchéus
cónicos que distinguem este castelo dos restantes, o visitante encontra a
tenalha, precedida pelo chamado pátio da traição (onde se abre a respetiva
porta). Em lado oposto à tenalha, adossada à muralha da cerca erguem-se a
capela, de planta hexagonal, sob a invocação de Nossa Senhora da Encarnação, e
a Casa da Capelania, em estilo barroco.
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