E entramos
na última semana deste nosso périplo pelos nove países da CPLP, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa, descobrindo um
pouco da literatura, da história e das belezas de cada um deles. Assim, hoje, e
por ordem alfabética… São Tomé e Príncipe!
Oficialmente
República Democrática de São Tomé e Príncipe, é um país insular localizado no
Golfo da Guiné, na costa equatorial ocidental de África, sendo composto por
duas ilhas principais, a ilha de São Tomé e a ilha do Príncipe, distantes cerca
de 140 quilómetros entre si.
Ilha de São Tomé |
Estas
ilhas, descobertas em 1470, foram sendo gradualmente colonizadas
pelos portugueses, a partir do século XVI, com condenados e judeus exilados.
Ilha de São Tomé |
A ilha
de São Tomé (com cinquenta quilómetros de comprimento e trinta de largura, a maior
e mais montanhosa das duas) foi descoberta a 21 de dezembro de 1470, por João
de Santarém...
João de Santarém |
... no dia de São Tomé, daí o nome da ilha e da cidade capital.
Ilhéu das Rolas |
O
Equador fica imediatamente a sul da ilha de São Tomé, passando sobre o ilhéu
das Rolas.
Praia das Bananas, Ilha do Príncipe |
Vinte
e sete dias depois, a 17 de janeiro de 1471, no dia de Santo Antão, Pêro Escobar...
Pêro Escobar |
...chega à ilha do Príncipe (trinta quilómetros de comprimento e seis de largura).
Inicialmente chamada ilha de Santo Antão (ou Santo António, denominação da sua
cidade principal), o seu nome foi mudado, em 1502, para Príncipe, em referência
ao Príncipe de Portugal para quem foram pagos impostos sobre a produção de
açúcar da ilha.
A sua
bandeira, como outras que já vimos em África, baseia-se nas três cores (verde,
vermelho e amarelo, as chamadas cores pan-africanas, em favor da liberdade e da
unidade africanas) da bandeira da Etiópia, mais duas estrelas de cor preta
(simbolizando as duas maiores ilhas do arquipélago), invocando a “Black Star
Line” do ativista afro-americano Marcus Garvey, uma companhia de navegação que
existiu entre 1919 e 1922, para transportar afro-americanos dos EUA para se
estabelecerem em África.
Com a
ilustração seguinte de Emília Nadal, vamos dar-te a conhecer um conto tradicional deste povo:
SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
A tartaruga manhosa
“Vida
de Tartaruga não presta. Sempre a enganar todo o mundo, sempre a tentar
ludibriar e sempre criando inimigos.
Um
dia a Tartaruga pensou casar com a filha do Rei. Entrou de mansinho no palácio
do Rei.
– Sum
Alê, Sum Alê...
–
Vai-te embora, Tartaruga! Estou farto de ti.
– O
senhor não se farta de mim. Nenhum homem, nenhum animal se farta. Quanto mais
come, mais quer comer todos os dias.
–
Desaparece, mofino!
A
Tartaruga senta-se num banquinho e encosta-se à sombra de uma árvore.
– Vai
ficar até morrer, Tartaruga?
–
Estou a espera da minha oportunidade.
–
Entao podes ficar aí até envelheceres.
– Sum
Alê, Sum Alê, olha que galinha nunca se farta de comer.
— Que
diabo, Tartaruga! Na minha capoeira todas as galinhas comem bem. Aqui não há
fome.
A
Tartaruga calou-se e depois voltou a carga.
–
Quer uma aposta? Se tu perder, o senhor Rei pode-me mandar matar.
– E
se ganhares?
–
Venho viver no palácio.
–
Estás maluco?
– Se
ganhar, a princesa sua filha será minha mulher.
– O
rei riu-se em grandes gargalhadas e mandou reunir toda a corte. Lá ia
divertir-se à custa da Tartaruga.
Mandou
soltar todas as galinhas das suas cem capoeiras. 0s servos trouxeram grandes
cestos de milho e bebedouros.
Toda
a gente sentada em redor aguardava.
A
criação comeu, comeu até não poder mais, começando a dormir mesmo com dia
claro, estendida no solo, sem sequer subir no poleiro.
A
Tartaruga levantou-se e tirou dum cesto grande, duas toras de lenha, muito
velhas e carcomidas, cheias de mil bichinhos, desde ócóli até uzali, e começou
a sacudir ruidosamente as toras de lenha no chão.
As
galinhas despertaram e avançaram para o banquete.
A
Tartaruga, ufana, exclamou contente:
–
Minha miséria acabou! Galinha farta, comida variada nunca rejeita... e eu
agora; o rei é meu sogro!"
Então,
até sexta-feira para o último país, por sinal o mais novo dos nove!