No âmbito da Escritaria 2022, festival literário de Penafiel, este ano dedicado à malograda poeta Ana Luísa Amaral, recebemos, na nossa Biblioteca Escolar, no “Às quintas na BE” de 20 de outubro, a contadora de histórias Gusta Santos, na atividade “Caminhos da poesia na Comunidade escolar”.
A duas turmas do 6.º ano e a duas turmas do 8.º ano, Gusta Santos leu, de forma muito impressiva, as histórias de “Como tu”, “A história da aranha Leopoldina”, “Gaspar, o dedo diferente” e “Lengalenga de Lena, a hiena”, alguns dos livros escritos por Ana Luísa Amaral a pensar nas crianças e nos jovens.
Desta forma demos a conhecer, um pouco melhor, o “Autor do Mês” de outubro.
E, neste tempo negro de guerra, de refugiados e de morte, aqui fica este belíssimo poema, inserto em “Ágora” (2019), livro de poemas de Ana Luísa Amaral, da editora Assírio e Alvim, combinação de bela poesia com imagens de obras de arte, ou seja, poemas que emergem da contemplação de obras de arte e que falam de uma “inquietação de Deus”.
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O milagre dos pães e dos peixes (mosaico bizantino, séc. VI) |
Prece no Mediterrâneo
Em vez de peixes, Senhor,
dai-nos a paz,
um mar que seja de ondas inocentes,
e, chegados à areia,
gente que veja com o coração de ver,
vozes que nos aceitem.
É tão dura a viagem
e até a espuma fere e ferve,
e, de tão alta, cega
durante a travessia
Fazei, Senhor, com que não haja
mortos desta vez,
que as rochas sejam longe,
que o vento se aquiete
e a vossa paz enfim
se multiplique
Mas depois da jangada,
da guerra, do cansaço,
depois dos braços abertos e sonoros,
sabia bem, Senhor,
um pão macio,
e um peixe, pode ser,
do mar
que é também nosso