9 de março de 2021

Posted by Biblioteca de E.B.2,3 de Paço de Sousa in | março 09, 2021

 Realiza-se hoje na Assembleia da República, instalada no Palácio de S. Bento, em Lisboa... 

Palácio de São Bento

... a tomada de posse do Presidente da República Portuguesa, com morada no Palácio de Belém...

Palácio de Belém

 ... para um novo mandato de cinco anos.

"A República" de Anjos Teixeira

Desde 1910, quando a Monarquia foi derrubada e a República foi implantada, só ocuparam esse lugar vinte homens diferentes pois alguns deles foram reeleitos. Por exemplo, na Terceira República, que é aquela que estamos a viver desde a Revolução do 25 de abril de 1974, os cinco presidentes eleitos por sufrágio direto e universal (por meio do voto dos cidadãos) foram todos reeleitos, cumprindo cada um deles um mandato total de dez anos.

Assim, quando daqui a cinco anos o presidente Marcelo Rebelo de Sousa terminar o mandato que hoje começa, teremos cinquenta anos de Presidência da República democrática. Nunca tal aconteceu na nossa história republicana!

Pois na cerimónia de hoje, e de acordo com o protocolo do Estado, irá ser executado, obrigatoriamente, o Hino Nacional.

 O artigo 11.º da Constituição Portuguesa, que define os símbolos nacionais e a língua oficial do país, estabelece que o Hino Nacional é “A Portuguesa”.

Então, que música é esta?

Vamos descobrir…

“A Portuguesa” é uma peça musical de Alfredo Keil, com letra de Henrique Lopes de Mendonça, e foi executada, pela primeira vez, no Teatro de S. Carlos, em Lisboa, a 29 de março de 1890, em versão grandiosa e operática para soprano, orquestra e fanfarra, na tonalidade de Sol Maior.

Alfredo Keil (1850-1907)

Henrique Lopes de Mendonça (1856-1931)

Foi composta como forma de protesto contra a atitude dos ingleses e do Governo português relativamente ao Ultimatum britânico de 1890, provocado pelo chamado Mapa Cor-de-Rosa, e logo foi adotada pelos republicanos como hino oficial.

Por exemplo, no dia 31 de janeiro de 1891, no Porto, no golpe de Estado frustrado para implantar um governo republicano, “A Portuguesa” aparece já como a opção republicana para o hino nacional.

Porto, 31 de janeiro de 1891

Depois da instauração da República, a 5 de outubro de 1910, a Assembleia Nacional Constituinte consagrou, no dia 19 de junho de 1911, “A Portuguesa” como hino oficial do regime e símbolo nacional.

Porém, chegados a 1956, circulavam já várias versões do hino, não só na linha melódica, mas também nas instrumentações, especialmente para banda, pelo que o Governo nomeou uma comissão encarregada de estudar uma versão oficial de “A Portuguesa”. Essa comissão elaborou uma proposta que seria aprovada em Conselho de Ministros a 16 de julho de 1957, mantendo-se o hino inalterado deste então até aos nossos dias.

A versão oficial só é gravada nesse ano, com um arranjo para orquestra sinfónica criado pelo maestro Frederico de Freitas.

Frederico de Freitas (1902-1980)

Saliente-se que, das três partes do poema original (composta cada uma delas por três estrofes em duas quadras e uma sextilha), apenas a primeira foi oficializada como Hino Nacional (fazendo esquecer as outras duas já que não constam na versão oficial):

Ø  A primeira estrofe enaltece o passado português, relembrando os Descobrimentos dos séculos XV e XVI (“Heróis do mar, nobre povo”).

Ø  A segunda estrofe relembra os antepassados dos portugueses, cujos feitos ecoam até ao presente, para guiar o povo português (Ó Pátria sente-se a voz/ Dos teus egrégios avós,/ Que há de guiar-te à vitória!”). Já agora, “egrégios” significa “ilustres”, “nobres”, “notáveis”.

Ø  A terceira estrofe incita ao espírito combatente e expansionista português, tentando sempre defender Portugal em todos os seus territórios, tanto terrestres como marítimos.

Corre por aí que a última frase (“Contra os canhões marchar, marchar!”) da terceira estrofe é uma adaptação feita da frase original que afirmava “Contra os bretões marchar, marchar”, mostrando o sentimento de revolta contra os bretões, ou seja, contra os ingleses! Mas não é verdade. Os documentos históricos provam que a frase original inclui “os canhões” e que “os bretões” é que são a adaptação posterior feita por patriotas descontentes com o Ultimatum.

Todos os portugueses devem respeitar o seu Hino sabendo as palavras de cor (não as trocando, de forma grosseira, por outras) e cantando-as:

https://www.youtube.com/watch?v=DdOEpfypWQA

 

Heróis do mar, nobre povo,

Nação valente, imortal,

Levantai hoje de novo

O esplendor de Portugal!

 

Entre as brumas da memória,

Ó Pátria, sente-se a voz

Dos teus egrégios avós,

Que há de guiar-te à vitória!

 

Às armas, às armas!

Sobre a terra, sobre o mar,

Às armas, às armas!

Pela Pátria lutar!

Contra os canhões

marchar, marchar!