11 de março de 2021

Posted by Biblioteca de E.B.2,3 de Paço de Sousa in | março 11, 2021

Na passada terça feira, no mesmo dia em que tomou posse, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou os seus cinco escolhidos para o Conselho de Estado, um órgão muito importante de aconselhamento do Presidente da República. Assim, reconduziu os quatro que já havia nomeado no mandato anterior e teve de anunciar alguém para ocupar o lugar deixado vago por Eduardo Lourenço, um grande pensador que morreu em dezembro.

E quem é que o Presidente escolheu?

Uma mulher… escritora!

Lídia Jorge é o seu nome e nasceu a 18 de junho de 1946 em Boliqueime, no Algarve. Filha única de agricultores, os livros foram a sua grande companhia durante a infância. Mas levou algum tempo até se decidir a publicar romances.

Antes ainda foi professora do ensino secundário e viveu alguns anos em Angola e Moçambique, durante o tempo doloroso da guerra colonial cujo início fará 60 anos no próximo abril. 

Ficou tão impressionada com o que viu que escreveu o romance “A Costa dos Murmúrios”, já adaptado ao cinema. Embora tenha escolhido viver em Portugal, gostaria muito de voltar a viver em Moçambique, pois foi uma terra que a marcou muito e de que gosta imenso.

Entre os seus numerosos romances, que lhe valeram inúmeros prémios, nacionais e internacionais, escreveu três livros infantis:

“O Grande Voo do Pardal” (2007);



“Romance do Grande Gatão” (2010);


“O conto da Isabelinha” (2018).

Se lhe perguntam onde vai buscar as ideias para as histórias que escreve, responde que as vai buscar à vida. Mas não as aceita tal e qual!

E o que faz? Transforma as situações que a incomodam e a que quer dar solução, procurando um sentido para os episódios que a impressionam e que não entende. As situações absolutamente mágicas que acontecem, guarda-as e escreve sobre elas.

Quanto ao ofício de escrever, dá dois conselhos a quem deseje vir a ser escritor:

- antes de se ser escritor, é preciso ser um grande leitor. Portanto, ler muito, escolhendo bons livros que se adaptem à idade de cada um;

- que comece a escrever e que mostre às pessoas à sua volta, mas que não tenha pressa de publicar. Começar a pensar na publicação de um livro é para quando a pessoa já tem a certeza de que aquilo que escreve pode ter algum interesse, mas, antes, tem de se ter paciência.

Por isso, o seu grande conselho é que se seja persistente e paciente, criando uma relação permanente, íntima, com os livros e com o caderno onde se vai escrevendo.

Isto mesmo fez Lídia Jorge pois começou a escrever muito cedo, praticamente quando aprendeu a escrever. Embora tenha aprendido a escrever na escola, tinha, por razões familiares, uma pequena biblioteca em casa, o que era muito raro, na altura, no sítio onde vivia. Como não tinha irmãos nem crianças junto dela, começou a ler livros. Muitos livros…

Porém, não aceitava as histórias tal como os livros as narravam! A partir dos nove anos começou a fazer uma espécie de continuações, para alterar os finais. E assim fez por muito tempo. A escrita foi sempre a sua companhia.

Então, e se não fosse escritora, o que teria sido?

Muitas coisas, pensa Lídia Jorge. Possivelmente, tantas quantas as personagens que tem inventado. O ser professora e dar aulas permitiu-lhe fazer, durante vários anos, algo de que tanto gosta: falar de escritores e de livros aos alunos. Aliás, considera mesmo que, ser professora, é uma profissão magnífica, que não deixa que o tempo passe ao lado. A sensação de se ser o elo de uma cadeia de transmissão é, segundo ela, um sentimento magnífico.

Fica a sugestão! Vamos conhecer Lídia Jorge… lendo algum dos seus livros.

E, para começar…

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecido

Encubro a luz que me habita

Não por ser feia ou bonita

Mas por ter assim nascido

Sou de vidro escurecido

Mas por ter assim nascido

Não me atinjam não me toquem

Meus amigos sou de vidro

 

Sou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestido

E um cinto de escuridão

Mas trago a transparência

Envolvida no que digo

Meus amigos sou de vidro

Por isso não me maltratem

Não me quebrem não me partam

Sou de vidro escurecido

 

Tenho fumo por vestido

Mas por assim ter nascido

Não por ser feia ou bonita

Envolvida no que digo

Encubro a luz que me habita