Artur Manuel
Rodrigues do Cruzeiro Seixas nasce na Amadora,
a 3 de dezembro de 1920, e morre no Hospital de Santa Maria, em Lisboa,
a 8 de novembro de 2020. Como ele próprio dizia,
era um "homem que pintava" e poeta.
Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas |
Em 1935
matricula-se na Escola de Artes Decorativas António Arroio,
onde faz amizade com Mário Cesariny (com
quem manteve uma relação íntima pois cedo assumiu a sua homossexualidade), Marcelino Vespeira, Júlio Pomar, Fernando Azevedo, António
Domingues e Fernando José Francisco.
Em meados
da década de 1940 aproxima-se do neorrealismo,
de que se afasta quando adere aos princípios do surrealismo. Juntamente com Mário Cesariny, António Maria Lisboa,
Carlos Calvet, Pedro Oom e Mário-Henrique Leiria, entre outros, integra o Grupo Surrealista de Lisboa, fundado em 1947, resultante da
cisão do recém-formado movimento surrealista português, participando em Lisboa,
em janeiro de 1949, entre a Sé e o Aljube, na 1.ª Exposição dos
Surrealistas.
Em 1951 alista-se na Marinha Mercante e viaja até África, Índia e Ásia. Nesse mesmo ano fixa-se em Angola, desenvolvendo atividade no Museu de Luanda. Data desse tempo o início da sua produção poética e a realização das primeiras exposições individuais (a primeira, de desenhos sobre a evocação de Aimé Cesaire, em 1953; a segunda principalmente de «objetos» e «colagens», em 1957).
Regressa a
Portugal em 1964 e, em 1966, é convidado por Natália Correia para ilustrar a
controversa obra "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e
Satírica".
Em 1967 recebe
uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Nesse mesmo ano realiza uma pequena
retrospetiva na Galeria Buchholz (com folha volante de Pedro Oom e prefácio de
Rui Mário Gonçalves) e expõe no Porto, na Galeria Divulgação. Em 1970 expõe
individualmente na Galeria de S. Mamede, em Lisboa, um conjunto de desenhos
"de uma imagética cruel”.
No seu
percurso contam-se, assim, inúmeras exposições individuais e coletivas em
importantes museus e galerias, em Portugal e no estrangeiro, e com diversos
prémios e distinções.
Entretanto,
trabalha como programador nas Galerias 111 e São Mamede, ambas em Lisboa, viaja
pela Europa e entra em contacto com membros do surrealismo internacional. Na
década de 1980 radica-se no Algarve, trabalhando como programador de diversas
galerias, colaborando em revistas internacionais ligadas ao surrealismo, a que
sempre se manteve fiel.
Em 1999,
doa a totalidade da sua coleção à Fundação Cupertino de Miranda,
com vista à constituição de um Centro de Estudos e Museu do Surrealismo.
Artista versátil, explora, ao longo de décadas, as infinitas poéticas do
surrealismo.
Em outubro
de 2012, a Sociedade Portuguesa de Autores atribuiu-lhe a
Medalha de Honra em forma de reconhecimento
pela sua longa e sólida carreira artística, como pintor e poeta e, em outubro
de 2020, é agraciado pela Ministra da Cultura, Graça Fonseca, com a Medalha de Mérito Cultural, "… reconhecimento
institucional, mas também um reconhecimento pessoal de alguém que se junta aos
muitos que o admiram e que em si reconhecem um olhar que sempre viu mais longe
e mais profundo".
Auto-retrato (1975) |
A 8 de junho de 2009, é agraciado com o grau de Grande-Oficial da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de
Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico.
Na obra
pictórica, o traço certeiro de Cruzeiro Seixas, "de limites apurados e
atmosferas de vertigem […] edifica um mundo desolador em que a face onírica e
literária não esconde a violência do conjunto, destruindo toda a possibilidade
de quietude". Mas essa noite primordial e inquietante "soube
coexistir com paisagens mais ligeiras e felizes, como algumas das pintadas nos
anos de Angola, e com citações plásticas da história da arte, num jogo de
grande prazer plástico, bem como com objetos dotados de flagrante poética, na sua
simplicidade de materiais, de técnicas e no sobressalto imaginativo".
Tendo sido
um dos precursores do surrealismo,
atualmente é visto como um dos seus máximos expoentes, considerando-se que o
surrealismo fantástico visível na sua obra tenha tido como principal inspiração
o trabalho do artista italiano De Chirico, sendo assim
autor de um vasto trabalho não só no campo do desenho e da pintura, mas também
na poesia, na escultura e nos objetos/escultura.
Vivendo os
últimos tempos da sua vida na Casa do Artista, em Lisboa,
morre a 8 de novembro de 2020, a escassos dias de completar 100 anos.