2 de dezembro de 2020

Posted by Biblioteca de E.B.2,3 de Paço de Sousa in | dezembro 02, 2020


Artur Manuel Rodrigues do Cruzeiro Seixas nasce na Amadora, a 3 de dezembro de 1920, e morre no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, a 8 de novembro de 2020. Como ele próprio dizia, era um "homem que pintava" e poeta.

Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas

Em 1935 matricula-se na Escola de Artes Decorativas António Arroio, onde faz amizade com Mário Cesariny (com quem manteve uma relação íntima pois cedo assumiu a sua homossexualidade), Marcelino Vespeira, Júlio Pomar, Fernando Azevedo, António Domingues e Fernando José Francisco.

Em meados da década de 1940 aproxima-se do neorrealismo, de que se afasta quando adere aos princípios do surrealismo. Juntamente com Mário Cesariny, António Maria Lisboa, Carlos Calvet, Pedro Oom e Mário-Henrique Leiria, entre outros, integra o Grupo Surrealista de Lisboa, fundado em 1947, resultante da cisão do recém-formado movimento surrealista português, participando em Lisboa, em janeiro de 1949, entre a Sé e o Aljube, na 1.ª Exposição dos Surrealistas.

Em 1951 alista-se na Marinha Mercante e viaja até África, Índia e Ásia. Nesse mesmo ano fixa-se em Angola, desenvolvendo atividade no Museu de Luanda. Data desse tempo o início da sua produção poética e a realização das primeiras exposições individuais (a primeira, de desenhos sobre a evocação de Aimé Cesaire, em 1953; a segunda principalmente de «objetos» e «colagens», em 1957).

Regressa a Portugal em 1964 e, em 1966, é convidado por Natália Correia para ilustrar a controversa obra "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica".

Em 1967 recebe uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Nesse mesmo ano realiza uma pequena retrospetiva na Galeria Buchholz (com folha volante de Pedro Oom e prefácio de Rui Mário Gonçalves) e expõe no Porto, na Galeria Divulgação. Em 1970 expõe individualmente na Galeria de S. Mamede, em Lisboa, um conjunto de desenhos "de uma imagética cruel”.

No seu percurso contam-se, assim, inúmeras exposições individuais e coletivas em importantes museus e galerias, em Portugal e no estrangeiro, e com diversos prémios e distinções.

Entretanto, trabalha como programador nas Galerias 111 e São Mamede, ambas em Lisboa, viaja pela Europa e entra em contacto com membros do surrealismo internacional. Na década de 1980 radica-se no Algarve, trabalhando como programador de diversas galerias, colaborando em revistas internacionais ligadas ao surrealismo, a que sempre se manteve fiel.

Em 1999, doa a totalidade da sua coleção à Fundação Cupertino de Miranda, com vista à constituição de um Centro de Estudos e Museu do Surrealismo. Artista versátil, explora, ao longo de décadas, as infinitas poéticas do surrealismo.

Em outubro de 2012, a Sociedade Portuguesa de Autores atribuiu-lhe a Medalha de Honra em forma de reconhecimento pela sua longa e sólida carreira artística, como pintor e poeta e, em outubro de 2020, é agraciado pela Ministra da Cultura, Graça Fonseca, com a Medalha de Mérito Cultural, "… reconhecimento institucional, mas também um reconhecimento pessoal de alguém que se junta aos muitos que o admiram e que em si reconhecem um olhar que sempre viu mais longe e mais profundo".

Auto-retrato (1975)

A 8 de junho de 2009, é agraciado com o grau de Grande-Oficial da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico.

Na obra pictórica, o traço certeiro de Cruzeiro Seixas, "de limites apurados e atmosferas de vertigem […] edifica um mundo desolador em que a face onírica e literária não esconde a violência do conjunto, destruindo toda a possibilidade de quietude". Mas essa noite primordial e inquietante "soube coexistir com paisagens mais ligeiras e felizes, como algumas das pintadas nos anos de Angola, e com citações plásticas da história da arte, num jogo de grande prazer plástico, bem como com objetos dotados de flagrante poética, na sua simplicidade de materiais, de técnicas e no sobressalto imaginativo".

Tendo sido um dos precursores do surrealismo, atualmente é visto como um dos seus máximos expoentes, considerando-se que o surrealismo fantástico visível na sua obra tenha tido como principal inspiração o trabalho do artista italiano De Chirico, sendo assim autor de um vasto trabalho não só no campo do desenho e da pintura, mas também na poesia, na escultura e nos objetos/escultura.

Vivendo os últimos tempos da sua vida na Casa do Artista, em Lisboa, morre a 8 de novembro de 2020, a escassos dias de completar 100 anos.