30 de outubro de 2020

Posted by Biblioteca de E.B.2,3 de Paço de Sousa in | outubro 30, 2020


O Halloween é celebrado em vários países, principalmente nos de língua inglesa, a 31 de outubro, véspera da festa cristã ocidental do Dia de Todos os Santos, o tempo do ano litúrgico dedicado a lembrar os mortos, incluindo santos, mártires e todos os fiéis falecidos.

Acredita-se que muitas das tradições do Halloween tiveram origem no antigo festival celta das colheitas, o Samhain (celebrado entre 30 de outubro e 2 de novembro e que marcava o fim do verão - samhain significa, literalmente, "fim do verão"), celebrado na Irlanda, na Escócia e na Ilha de Man entre os anos 600 a.C. e 800 d.C., com o objetivo de dar culto aos mortos e à deusa YuuByeol (símbolo antigo da perfeição celta). Mais tarde, esta festividade gaélica foi cristianizada pela Igreja primitiva.

A invasão das Ilhas Britânicas pelos Romanos (46 a.C.) acabou unindo a cultura latina com a celta, sendo que esta última foi-se extinguindo com o tempo.

Em fins do século II, com a evangelização desses territórios, a religião dos Celtas, chamada druidismo, já tinha desaparecido na maioria das comunidades. Pouco sabemos sobre a religião dos druidas, pois não se escreveu nada sobre ela: tudo era transmitido oralmente de geração para geração.

A "festa dos mortos" era uma das suas datas mais importantes, pois celebrava o que para os cristãos seriam "o céu e a terra" (conceitos que só chegaram com o cristianismo). Para os celtas, o lugar dos mortos era um lugar de felicidade perfeita, onde não haveria fome nem dor. As festas eram presididas pelos sacerdotes druidas, que atuavam como "médiuns" entre as pessoas e os seus antepassados. Dizia-se também que os espíritos dos mortos voltavam nessa data para visitar seus antigos lares e guiar os seus familiares rumo ao outro mundo.

No século VII, Bonifácio IV (Papa entre 608 a 615) transformou um templo romano dedicado a todos os deuses (Panteão) num templo cristão e dedicou-o a "Todos os Santos", a todos os que nos precederam na fé. A festa em honra de Todos os Santos, inicialmente era celebrada no dia 13 de maio, mas Gregório III (Papa entre 731 e 741) mudou a data para 1 de novembro, que era o dia da dedicação da capela de Todos os Santos na Basílica de São Pedro, em Roma. Mais tarde, no ano de 840, Gregório IV (Papa entre 828 e 844) ordenou que a festa de Todos os Santos fosse celebrada universalmente.

Panteão de Roma

Como festa grande, esta também ganhou a sua celebração vespertina ou vigília, que prepara a festa no dia anterior (31 de outubro). Na tradução para o inglês, essa vigília era chamada All Hallow's Eve (Vigília de Todos os Santos), passando depois pelas formas All Hallowed Eve e All Hallow Een até chegar à palavra atual Halloween.

O primeiro registo do termo Halloween é de cerca de 1745 e resulta da contração do termo escocês All Hallows' Eve, que significa, portanto, véspera do Dia de Todos-os-Santos.

Assim, de facto, na sua origem, o Halloween não tem qualquer relação com bruxas, maldades ou assombrações.

Se se analisar o modo como o Halloween é celebrado hoje, é visível que pouco tem a ver com as suas origens: só restou uma alusão aos mortos, mas com um carácter completamente distinto do que tinha ao princípio. Além disso foi sendo incorporada, pouco a pouco, toda uma série de elementos estranhos tanto à festa de Finados como à festa de Todos os Santos.

Entre os elementos acrescidos temos, por exemplo, o costume dos "disfarces", muito possivelmente nascido na França entre os séculos XIV e XV. Nessa época a Europa foi flagelada pela Peste Negra e a peste bubónica dizimou quase metade da população do Continente, criando entre os católicos um grande temor e preocupação com a morte. Por causa disso, multiplicaram-se as missas na festa dos Fiéis Defuntos e nasceram muitas representações artísticas que recordavam às pessoas a sua própria mortalidade. Algumas dessas representações eram conhecidas como danças da morte ou danças macabras.

Alguns fiéis, dotados de um espírito mais burlesco, começaram a adornar, na véspera da festa de Finados, as paredes dos cemitérios com imagens do diabo puxando uma fila de pessoas para a tumba: papas, reis, damas, cavaleiros, monges, camponeses, leprosos...

Também eram feitas representações cénicas, com pessoas disfarçadas de personalidades famosas e personificando inclusive a morte, à qual todos chegam.

Na Idade Média, um costume do Dia de Finados era o souling (de "soul", alma), em que crianças iam pedindo pelas portas um bolo, o "bolo das almas", em troca do qual faziam uma oração pelos familiares falecidos de quem lhes dava esse bolo. Essa tradição poderá ter evoluído para a tradição de pedir um doce, sob ameaça de fazer uma travessura (trick or treat, "doce ou travessura"), que teve possivelmente origem na Inglaterra, no período da perseguição protestante contra os católicos (1500-1700).

Hoje, entre as atividades de Halloween mais comuns nas comunidades de língua inglesa, sobretudo na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos da América, estão as festas e fantasias, praticar "doce ou travessura", decorar a casa, fazer lanternas de abóbora, fogueiras, jogos de adivinhação, atrações "assombradas", contar histórias assustadoras e assistir a filmes de terror. Em muitas partes do mundo, as vigílias religiosas cristãs de Halloween, como frequentar os cultos da igreja e acender velas nos túmulos dos mortos, permanecem populares, embora em outros lugares seja uma celebração apenas comercial e secular.

Portanto, como se pode deduzir, a atual festa do Halloween é produto da mescla de muitas tradições, trazidas pelos colonos no século XVIII para os Estados Unidos e ali integradas de modo peculiar na sua cultura.

Perdidas as raízes e a crença na vida após a morte, ficaram alguns usos que, à falta de sentido e num tempo de exaltação e de sedução do mal, proporcionam situações aparentemente inofensivas mas, na realidade, insidiosamente maléficas (dando a impressão de que são bons certos seres, coisas e atitudes que, verdadeiramente, o não são). Na realidade, uma forma disfarçada de promoção da cultura do mal.

Muitas delas, já esquecidas na Europa, ressurgem agora, neste mundo global, por força da colonização cultural dos Estados Unidos, enquanto se desprezam as tradições locais...