Ora então
de cor!
Desculpe?!
De cor ou de cor (com ó aberto)? O que é que isso significa realmente?
De
facto, estas duas palavras classificam-se como homógrafas, ou seja, têm a mesma
grafia, mas pronúncia e significado diferentes.
Por exemplo, a palavra compasso…
Compasso para desenhar circunferências |
Compasso musical |
Compasso pascal |
A palavra cor na expressão “saber de cor” é um
diacronismo antigo que tem origem no latim cor, cordis, e significa “de
coração”.
O mesmo acontece com o francês “coeur”, o catalão “cor”, o italiano “cuore”
e o espanhol “corazón”.
Estas formas estão documentadas desde a Idade Média e
parece terem sempre prevalecido sobre “cor”.
Porém, mesmo tendo origem latina, este termo chegou
até ao português como galicismo ou francesismo (palavra ou expressão de origem
francesa ou afrancesada).
Portanto, saber “de cor” é saber “de coração”.
Antigamente acreditava-se que a memória residia no
coração e os sentimentos no fígado, por exemplo. E por isso se dizer de alguém
com maus sentimentos ter “maus fígados”.
Este substantivo (cor, com ó aberto) é efetivamente um
sinónimo de coração, com a particularidade de apenas ocorrer na locução “de
cor”, que significa “saber de memória”.
Este uso limitado de “cor” tem uma razão histórica.
Consultando o “Vocabulário Portuguez e Latino”,
publicado em 1712, vemos que já era assim muito antes: cor só figura na locução
“de cor”.
Porém, a dúvida subsiste: porque se diz hoje coração,
para denotar e referir o órgão muscular oco, na cavidade torácica, que recebe o
sangue das veias e o impulsiona para dentro das artérias, e só se usa o arcaísmo
(palavra ou termo muito antigo) cor em “de cor”, como em “saber de cor” ou
“falar de cor”?
Por outro lado, a palavra cor em “o verde é a minha
cor” tem origem no latim color, coloris, com o
significado de “cor, tinta, tom”.
Cor e cor? Palavras homógrafas!
A BE deseja a todos um bom fim de semana!