Este episódio de Bibliotecas do Mundo é especial. E
porquê?
Porque a Biblioteca Apostólica Vaticana é a mais
antiga biblioteca da Europa. Não sendo a primeira biblioteca papal, que
desapareceu devido a saques e a invasões, é o primeiro núcleo de coleções
pontifícias (religiosas) e de pesquisa para história, direito, filosofia,
ciência e teologia.
Localizada na cidade-estado do Vaticano, em Roma,
capital da Itália, a Biblioteca Apostólica foi fundada pelo papa Nicolau V (1447-1455)
em 1448, no Palácio dos Papas, com o que restava das bibliotecas dos seus antecessores,
cerca de 350 códices gregos, latinos e hebraicos.
A oficialização da Biblioteca acontece com a bula “Ad
decorem militantis Ecclesiae” de 15 de junho de 1475, do papa Sisto IV, que
define um orçamento específico para a biblioteca e nomeia, como bibliotecário,
Bartolomeo Platina, responsável pelo primeiro catálogo das obras ali guardadas,
elaborado em 1481.
Bartolomeo Platina é investido Bibliotecário pelo Papa Sisto IV Fresco de Melozzo da Forli (c. 1477) |
A biblioteca possuía então mais de 3.500 manuscritos,
o que fazia dela a maior do mundo ocidental.
Em baixo, à direita, a Capela Sistina. Na diagonal, Pátio do Belvedere e logo a Biblioteca Apostólica |
Em 1587, o Papa Sisto V (1585-1590) contrata o
arquiteto Domenico Fontana para construir um novo edifício para a biblioteca, situado
no interior do Vaticano, e manda transferir todos os livros para o novo e
definitivo espaço, o Salão Sistino (um grande salão com mais de 70 metros de
comprimento e 11 metros de largura).
Salão Sistino |
Embora com alguns acrescentos, é o mesmo edifício
onde ainda se encontra hoje.
Pátio do Belvedere, fachada da Biblioteca Apostólica Vaticana |
No início, esta Biblioteca tinha um caráter especial:
era composta por Bíblias e trabalhos teológicos. Porém, rapidamente cresceu e
especializou-se em trabalhos seculares, sobretudo, os clássicos em grego e em
latim.
Atualmente possui mais de 8,3 mil incunábulos (livros
impressos nos primórdios da imprensa, por volta do século XV), 150 mil códices
manuscritos, 100 mil gravuras e desenhos, 300 mil moedas e medalhas e quase 20
mil objetos de valor artístico.
Entre os documentos históricos há partituras musicais,
textos cuneiformes e manuscritos gregos e judaicos. Há obras de Homero, Platão,
Sófocles, Hipócrates, manuscritos judeus dos mais antigos preservados até
hoje e alguns dos primeiros livros italianos impressos durante o Renascimento.
Entre as jóias está o “Codex Vaticanus”, um dos mais antigos manuscritos da
bíblia grega de que se tem notícia.
Codex Vaticanus |
Atualmente, esta Biblioteca está aberta a qualquer pessoa
que queira pesquisar. Aliás, a partir de março de 2014, a Biblioteca do Vaticano
iniciou um grandioso projeto de digitalização que, previsivelmente, durará 18
anos!
Para tanto foi desenvolvido, por cientistas norte-americanos ligados à NASA, um complexo
projeto de microfilmagem dos seus tesouros bibliográficos, sobretudo dos
manuscritos. Tal trabalho possibilita aos interessados cópias em microfilme
dessas fontes históricas de informação, poupando-os de uma viagem a Roma.
Os bibliotecários responsáveis por esta biblioteca
foram sempre homens cultos, estudiosos e de formação humanística. Hoje, esse homem
é… um português: D. José Tolentino de Mendonça.
D. José Tolentino de Mendonça |
D. José Tolentino Calaça de Mendonça nasceu no Machico,
na ilha da Madeira a 15 de Dezembro de 1965, sendo o mais novo de cinco irmãos.
Teólogo e professor universitário, ordenado padre em 1990, é também considerado
uma das vozes mais originais da literatura portuguesa contemporânea e
reconhecido como um eminente intelectual católico. A sua obra inclui poesia,
ensaios e peças de teatro.
O Papa Francisco visita a Biblioteca Apostólica Vaticana guiado por D. José Tolentino de Mendonça, bibliotecário, a 4 de dezembro de 2018. |
Em fevereiro de 2018, após pregar um retiro no
Vaticano, subordinado ao título “O elogio da sede”...
... o ainda sacerdote é escolhido pelo Papa Francisco para Bibliotecário da Biblioteca Apostólica do Vaticano.
P. José Tolentino de Mendonça a pregar o retiro fevereiro de 2018 |
Tão alto cargo provoca a sua sagração como arcebispo titular de Suava, em julho
de 2018 e de cardeal, em outubro de 2019.
D. José Tolentino de Mendonça no dia em que é feito cardeal Basílica de S. Pedro, 5 de outubro de 2019 |
Devido ao seu grande valor, o
Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, escolheu-o para
Comissário das Comemorações 2020 do 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e
das Comunidades Portuguesas, evento entretanto cancelado devido à pandemia da Covid-19.