4 de junho de 2020

Posted by Biblioteca de E.B.2,3 de Paço de Sousa in | junho 04, 2020


Este episódio de Bibliotecas do Mundo é especial. E porquê?
Porque a Biblioteca Apostólica Vaticana é a mais antiga biblioteca da Europa. Não sendo a primeira biblioteca papal, que desapareceu devido a saques e a invasões, é o primeiro núcleo de coleções pontifícias (religiosas) e de pesquisa para história, direito, filosofia, ciência e teologia.


Localizada na cidade-estado do Vaticano, em Roma, capital da Itália, a Biblioteca Apostólica foi fundada pelo papa Nicolau V (1447-1455) em 1448, no Palácio dos Papas, com o que restava das bibliotecas dos seus antecessores, cerca de 350 códices gregos, latinos e hebraicos.


A oficialização da Biblioteca acontece com a bula “Ad decorem militantis Ecclesiae” de 15 de junho de 1475, do papa Sisto IV, que define um orçamento específico para a biblioteca e nomeia, como bibliotecário, Bartolomeo Platina, responsável pelo primeiro catálogo das obras ali guardadas, elaborado em 1481.
Bartolomeo Platina é investido Bibliotecário pelo Papa Sisto IV
Fresco de Melozzo da Forli (c. 1477)
A biblioteca possuía então mais de 3.500 manuscritos, o que fazia dela a maior do mundo ocidental.

Em baixo, à direita, a Capela Sistina. Na diagonal, Pátio do Belvedere e logo a Biblioteca Apostólica
Em 1587, o Papa Sisto V (1585-1590) contrata o arquiteto Domenico Fontana para construir um novo edifício para a biblioteca, situado no interior do Vaticano, e manda transferir todos os livros para o novo e definitivo espaço, o Salão Sistino (um grande salão com mais de 70 metros de comprimento e 11 metros de largura). 

Salão Sistino
Embora com alguns acrescentos, é o mesmo edifício onde ainda se encontra hoje.

Pátio do Belvedere, fachada da Biblioteca Apostólica Vaticana
No início, esta Biblioteca tinha um caráter especial: era composta por Bíblias e trabalhos teológicos. Porém, rapidamente cresceu e especializou-se em trabalhos seculares, sobretudo, os clássicos em grego e em latim. 


Atualmente possui mais de 8,3 mil incunábulos (livros impressos nos primórdios da imprensa, por volta do século XV), 150 mil códices manuscritos, 100 mil gravuras e desenhos, 300 mil moedas e medalhas e quase 20 mil objetos de valor artístico.


Entre os documentos históricos há partituras musicais, textos cuneiformes e manuscritos gregos e judaicos. Há obras de Homero, Platão, Sófocles, Hipócrates, manuscritos judeus dos mais antigos preservados até hoje e alguns dos primeiros livros italianos impressos durante o Renascimento. 


Entre as jóias está o “Codex Vaticanus”, um dos mais antigos manuscritos da bíblia grega de que se tem notícia.

Codex Vaticanus
Atualmente, esta Biblioteca está aberta a qualquer pessoa que queira pesquisar. Aliás, a partir de março de 2014, a Biblioteca do Vaticano iniciou um grandioso projeto de digitalização que, previsivelmente, durará 18 anos! 


Para tanto foi desenvolvido, por cientistas norte-americanos ligados à NASA, um complexo projeto de microfilmagem dos seus tesouros bibliográficos, sobretudo dos manuscritos. Tal trabalho possibilita aos interessados cópias em microfilme dessas fontes históricas de informação, poupando-os de uma viagem a Roma.


Os bibliotecários responsáveis por esta biblioteca foram sempre homens cultos, estudiosos e de formação humanística. Hoje, esse homem é… um português: D. José Tolentino de Mendonça.
D. José Tolentino de Mendonça
D. José Tolentino Calaça de Mendonça nasceu no Machico, na ilha da Madeira a 15 de Dezembro de 1965, sendo o mais novo de cinco irmãos. 

Teólogo e professor universitário, ordenado padre em 1990, é também considerado uma das vozes mais originais da literatura portuguesa contemporânea e reconhecido como um eminente intelectual católico. A sua obra inclui poesia, ensaios e peças de teatro. 

O Papa Francisco visita a Biblioteca Apostólica Vaticana guiado por D. José Tolentino de Mendonça, bibliotecário, a 4 de dezembro de 2018.
Em fevereiro de 2018, após pregar um retiro no Vaticano, subordinado ao título “O elogio da sede”...


 ... o ainda sacerdote é escolhido pelo Papa Francisco para Bibliotecário da Biblioteca Apostólica do Vaticano. 

P. José Tolentino de Mendonça a pregar o retiro
fevereiro de 2018
Tão alto cargo provoca a sua sagração como arcebispo titular de Suava, em julho de 2018 e de cardeal, em outubro de 2019. 

D. José Tolentino de Mendonça no dia em que é feito cardeal
Basílica de S. Pedro, 5 de outubro de 2019
Devido ao seu grande valor, o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, escolheu-o para Comissário das Comemorações 2020 do 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, evento entretanto cancelado devido à pandemia da Covid-19.