Hoje é dia de São João!
Todos os anos, no mês de junho, entre os chamados
Santos Populares, aparece… o São João!
A véspera e a noite de São João é sinónimo de festa
rija com sardinha assada, vinho, balões, fogo-de-artifício, rusgas, manjericos, cascatas, quadras, martelinhos, alhos-porros, música, dança e muita animação.
Embora haja festa em várias cidades e vilas de
Portugal, Porto e Gaia rivalizam com Braga quanto ao título de maior festa!
Durante a tarde de 23 todos estão ocupados com os
preparativos. Depois, a noite começa cedo e há-de terminar muito, mas mesmo
muito… de manhã, quando o sol já brilha no céu!
Nessa altura, os foliões (ou
seja, todos aqueles que andaram na folia) regressam a casa para dormir.
Normalmente, o dia 24 é muito tranquilo e, à noite, quase que não há gente nas
ruas!
Está tudo a compensar a noite não dormida e o cansaço do tanto que se
andou…
Mas este ano, devido à pandemia e às medidas de
contenção impostas pela saúde de todos, nada disto acontecerá.
“Que triste São João!” dirão muitos.
Mas, afinal, quem é este santo?
Vamos descobrir…
A sua história é dada a conhecer através da Bíblia. De
acordo com os Evangelhos, tudo começa com a Anunciação: o Anjo Gabriel visita
uma jovem de Nazaré, de seu nome Myriam, ou Maria, anunciando que ela será a
mãe de Jesus.
Perante o espanto da jovem, o Anjo, para provar que a Deus nada é
impossível, dá-lhe a conhecer o facto de que uma sua prima, chamada Isabel, muito
idosa e estéril, se encontra já no sexto mês de gravidez.
Maria vai então
visitar a sua prima Isabel, que morava em Ein Kerem, uma terra distante, e por
lá fica até ao parto.
Quando o menino nasce, muitos perguntam qual será o nome
que receberá. Zacarias, o pai, que ficara mudo havia já longo tempo, volta a
ganhar a capacidade de falar e diz que o menino terá o nome de João e que irá à
frente a preparar a vinda do Salvador.
Portanto, João é primo de Jesus.
Vamos agora descobrir como esta festa de S. João está
ligada ao Natal.
No tempo histórico de Jesus, há mais de dois mil anos,
a data de nascimento não era registada nem se dava a importância que nós damos
hoje aos aniversários. Mesmo aos imperadores ou outras pessoas muito
importantes não se conhece o dia do nascimento.
O mesmo se passou com Jesus.
O Natal, festa do seu
nascimento, é celebrado a 25 de dezembro porque, não se sabendo o dia certo, os
crentes começaram a festejar o seu nascimento sobre uma festa pagã ao deus Sol.
Como Jesus era o Sol para as suas vidas, o dia da festa pagã do Sol passou a
ser o dia da festa cristã do nascimento de Jesus.
Ora o episódio da Anunciação
(relatado há pouco), também sem data registada, terá de ser nove meses antes do
nascimento. Assim, 25 de dezembro (Natal), 25 de março (Anunciação). Se nesse
dia Isabel tinha já completado seis meses da gravidez de João, o menino nascerá
do dia anterior mais três meses, ou seja, a 24 de junho!
O epíteto Batista com que ficou na história deve-se ao
facto de ter sido ele quem batizou Jesus no rio Jordão. O próprio João terá
dito: “Eu, de facto, batizo-vos com água. Entretanto, chegará alguém mais
poderoso do que eu, de tal maneira que não sou digno sequer de desamarrar as
correias das suas sandálias. Ele sim, batizar-vos-á com o Espírito Santo e com
fogo.” (Evangelho de S. Lucas 3, 16).
De acordo com a fé cristã, santo é aquele ou aquela
que atinge um tal estádio de perfeição em vida que, ao morrer, fica logo no céu
em presença de Deus. Assim, celebra-se sempre apenas a data da sua morte, a que
se dá o nome de “Dies Natalis”, o dia do nascimento para o céu.
Porém, João Batista é o único santo (para além de
Jesus e de Maria) em que se celebram o dia do nascimento e o dia da morte (29
de agosto).
O próprio Jesus dirá dele: “Eu vos afirmo que entre os nascidos de
mulher não há um ser humano maior do que João. Todavia, o menor no Reino de
Deus é maior do que ele” (Evangelho de S. Lucas 7, 28).
E como é que São João Batista vivia?
Segundo a Bíblia usava uma veste simples de pele de
camelo, vivia no deserto, alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre e
proclamava a conversão
Portanto, um homem austero, solitário, de vida muito
agreste.
Ou seja, nada comparável à festança que lhe fazem
todos os anos…
Queríamos ainda referir um outro aspeto a propósito
dos festejos a São João Batista.
Para a Igreja, São João Batista é incontornável!
Portanto, a festa do seu nascimento, que é motivo de
grande alegria, é uma solenidade (ou festa maior) que já aparece registada nas
atas do concílio de Agde, no território da atual França, em 506. Ou seja, é uma
festa com cerca de mil e quinhentos anos de existência!
Ao longo deste tempo
muitos foram os textos e os hinos compostos para o seu culto.
Ora é aqui que entra a origem do nome das notas
musicais!
Até ao século XI, estas notas não tinham nome. Nessa altura,
um monge italiano chamado Guido d`Arezzo, procurando achar uma solução, reparou
que, num hino cantado a São João Batista no dia 24 de junho, cada verso do
texto começava numa altura (ou seja, numa nota) diferente.
O que é que ele fez?
Pegou na primeira sílaba de cada verso que passou a
ser o nome dessa nota.
Se lerem de baixo para cima, lá estão as sete notas.
Sancte Ioannes
Labii reatum.
Solve polluti,
Famuli
tuorum,
Mira
gestorum,
Resonare
fibris,
Ut queant
laxis,
O texto em latim, de Paolo Diacono, diz: "Para
que os teus servos possam cantar as maravilhas dos teus atos admiráveis,
absolve as faltas dos seus lábios impuros, São João".
No século XVII ut foi substituído por do, sugestão feita pelo músico italiano
Giovanni Battista Doni (1593-1647).
A todos, um bom São João!