5 de maio de 2020

Posted by Biblioteca de E.B.2,3 de Paço de Sousa in | maio 05, 2020

Começamos hoje esta nova rubrica. 
Nós, utilizadores da língua portuguesa, sabemos que ela é muito rica, nomeadamente em palavras e em recursos estilísticos.
Tanto na linguagem oral como na linguagem escrita podemos enriquecer o discurso "deitando a mão" à estilística, ou seja, usando meios que permitem modificar a linguagem vulgar.


E hoje falamos da alegoria
Esta figura consiste numa sucessão de comparações ou imagens que transmitem um pensamento sob forma figurada, usando uma coisa para dar a ideia de outra. 
Por exemplo, a expressão entre aspas usada há pouco, é claramente uma alegoria pois quer significar que se usa a estilística como se de um instrumento de trabalho manual se tratasse, como se fosse possível pegar nela de forma física.
Exemplo perfeito podemos encontrar no final de "Cântico negro" de José Régio (1901-1969):

"... A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou..."


Este excerto leva-nos aos textos alegóricos. Estes podem ser de três tipos que, devido às grandes semelhanças que possuem, são frequentemente confundidos:

 - Fábula: texto literário muito comum na literatura infantil. A linguagem utilizada é simples e distingue-se pelo uso de personagens animais com características humanas, com o objetivo de ensinar algo ou provar alguma verdade, estabelecendo uma moral.
"A cigarra e a formiga" de Jean de La Fontaine (1621-1695). Nesta fábula, os dois animais ensinam-nos como é importante preparar o futuro com antecedência.
 - Parábola: texto que utiliza situações e pessoas para comparar a ficção com a realidade e através dessa comparação transmitir uma lição de sabedoria, ou seja, a moral da história. É um género muito comum na Bíblia, por exemplo.
"Cego guiando cegos" de Brughel (1525-1569). Nesta parábola, os cegos são conduzidos... por outro cego. A quem entregamos a condução da nossa vida?
 - Apólogo: texto que ilustra um ensinamento de vida através de situações semelhantes às reais, envolvendo pessoas, objetos ou animais, seres animados ou inanimados. Resulta do latim apologus, do grego apologos, e é formado de apo, que expressa fim ou intenção, e logos: discurso, palavra.
"O rapaz de bronze" de Sophia de Mello Bryner Andresen (1919-2004). Neste apólogo, temos o rapaz de bronze, que é estátua de jardim, e as flores que, à noite, falam, pensam e divertem-se... como as pessoas!
Então, até à semana. E não percam o pé no mar da vida!