5 de maio de 2020

Posted by Biblioteca de E.B.2,3 de Paço de Sousa in | maio 05, 2020


5 de maio! Grande dia este em que a CPLP lembra a língua e a cultura em português.

Mas, que significa CPLP? Significa Comunidade de Países de Língua Portuguesa.
A ideia de criação de uma comunidade de países e povos que partilham a Língua Portuguesa – nações irmanadas por uma herança cultural e um idioma comum – foi sonhada por muitos ao longo dos tempos. 
Em 1983, no decurso de uma visita oficial a Cabo Verde, o então ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Jaime Gama, referiu ser muito vantajoso promover, com os sete países de língua portuguesa espalhados por África, Europa e América, a constituição de um grupo de língua portuguesa no seio das nações. O processo ganhou impulso decisivo na década de 90, merecendo destaque o empenho do então Embaixador do Brasil em Lisboa, José Aparecido de Oliveira. 

O primeiro passo concreto no processo de criação da CPLP foi dado em São Luís do Maranhão, em Novembro de 1989, por ocasião da realização do primeiro encontro dos Chefes de Estado e de Governo dos países de Língua Portuguesa - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, a convite do Presidente brasileiro de então, José Sarney. 
Na reunião, decidiu-se criar o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), para a promoção e difusão do idioma comum da Comunidade. 

Depois de muitas outras reuniões, foi finalmente criada, em Lisboa, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP. Eis a foto desse momento:

Foto da Cimeira Constitutiva da CPLP, que decorreu a 17 de julho de 1996 no Centro Cultural de Belém, com Chefes de Estado e de Governo dos Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Os Presidentes de Angola, José Eduardo dos Santos; do Brasil, Fernando Henrique Cardoso; de Cabo Verde, Mascarenhas Monteiro; de Portugal, Jorge Sampaio; o primeiro-ministro português, António Guterres; o Presidente da Guiné-Bissau, João Bernardo "Nino" Vieira; de Moçambique, Joaquim Chissano, o Primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Armindo Vaz de Almeida, e ainda o Secretario Executivo da CPLP, Marcolino Moco.
Seis anos mais tarde, a 20 de maio de 2002, com a conquista de sua independência, Timor-Leste tornou-se o oitavo país membro da Comunidade. Também depois de um minucioso e discutido (por muitas e diversas razões) processo de adesão, a Guiné Equatorial tornou-se, em 2014, o nono membro de pleno direito. 
Entretanto, a partir de 2009, passou-se a celebrar, a 5 de maio, o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).



A área do globo terrestre ocupada pelos nove Estados-membros da CPLP é muito vasta. 
São 10 742 000 km2 de terras, 7,2% do planeta (148 939 063 km2), espalhadas por quatro Continentes (Europa, América, África e Ásia) e englobando mais de 230 milhões de falantes. Situado maioritariamente no hemisfério sul, este espaço descontínuo abrange realidades tão diversas como a do Brasil, quinto maior país do mundo pela superfície, como o minúsculo arquipélago de São Tomé e Príncipe, o Estado mais pequeno, em área, de África. Com exceção de Portugal, de clima temperado com variantes oceânica e mediterrânea, a maior parte da CPLP situa-se na zona tropical subequatorial.

Entretanto, a comemoração deste dia foi ganhando cada vez maior importância, ao ponto de hoje, 5 de maio de 2020, se celebrar, pela primeira vez, o Dia Mundial da Língua Portuguesa.
Esta celebração foi ratificado a 25 de novembro de 2019, pela organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, na sigla em inglês), na sequência de uma proposta apresentada por todos os países lusófonos, e apoiada por mais 24 Estados. 

Devido à pandemia da COVID-19, esta data ficou um pouco encoberta. No entanto, serão hoje difundidas, no canal YouTube do Camões (Instituto da Cooperação e da Língua), mensagens do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, do Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, do primeiro-ministro português, António Costa, do chefe de estado de Cabo Verde e presidente em exercício da CPLP, Jorge Carlos Fonseca, do secretário-executivo da CPLP, Francisco Ribeiro Telles, e do embaixador Sampaio da Nóvoa, representante de Portugal na UNESCO.
A estes, juntaram-se cerca de duas dezenas de outras personalidades lusófonas incluindo escritores, músicos, cineastas ou cientistas.
Entre eles contam-se os escritores Mia Couto (Moçambique), Germano Almeida (Cabo Verde) e Manuel Alegre (Portugal) e os cantores Adriana Calcanhoto (Brasil), Dino Santiago (Portugal/Cabo Verde) e Carminho (Portugal).
Participam também o futebolista Pedro Pauleta, o canoísta Fernando Pimenta (Portugal), o cineasta Flora Gomes (Guiné-Bissau), a cientista Maria Manuel Mota, o teólogo e cardeal José Tolentino de Mendonça (Portugal) e o político timorense José Ramos-Horta, entre outros.



Cada um destes nove países tem uma literatura, claro, em português. Será que a conheces?

Pois a BE, qual Agência de Viagens, desafia-te para, ao longo deste mês de maio, descobrires um bocadinho da literatura, da história e das belezas de cada um deles. 
Assim, em cada semana, à terça e à sexta, “viajaremos” até um desses países.
Vamos partir...

E a primeira paragem é… ANGOLA!
Esse enorme país fica em África (como podes ver no mapa), banhado pelo Atlântico. 
A sua capital é Luanda. 
Além do Português, língua oficial, são falados outros idiomas, sobretudo o Umbundo, Kimbundo, Kikongo e Tchokwé.

Praia da Caotinha, Benguela, Angola
A sua bandeira tem duas cores: o vermelho representa o sangue sobre a terra africana, representada pela cor preta. A catana e a meia roda dentada representam, respetivamente, a agricultura e a indústria, a amarelo, lembrando os minérios ricos, como o ouro, que o país tem.
Olhando para a ilustração seguinte, vamos dar-te a conhecer um conto tradicional deste povo: 

Ilustração de Arlete Marques

A Mungomba que punha ovos

"A mungomba, isto é, a perua do mato, punha os seus ovos junto à nascente de um rio. Cada vez que punha um, ao sair do ninho, cantava: “Sou eu, sou eu e mais ninguém”.
Certo dia, os outros animais reuniram-se no intuito de saber qual seria o motivo da mungomba cantar sempre daquela maneira e decidiram mandar a cobra Ndakakanda ao seu ninho. Quando lá chegou, não encontrou a dona porque esta tinha ido procurar alimentos.
Então, a cobra enrolou-se no ninho e com o seu brilho fazia com que as coisas à volta parecessem águas caudalosas. Quando a mungomba voltou, encontrou no seu ninho uma coisa brilhante e disse assustada:
– Ai, meu Deus! Que mal fiz eu? Por que é que a cobra está sobre os meus ovos?
Não sabendo o que fazer, correu para a sua majestade o Tigre e disse-lhe:
– Majestade! Eu saí à procura de alimentos e, quando voltei, encontrei a cobra Ndakakanda sobre os meus ovos. Diga-me o que devo fazer com ela. Se pensa que estou a mentir, venha comigo para ver.
O Tigre respondeu-lhe:
– O problema é teu. Já alguma vez vieste aqui a minha casa visitar-me? Aliás, tenho-te ouvido cantar todas as manhãs. Diz-me lá, como é que costumas cantar? 
Respondeu-lhe a mungomba:
– Costumo cantar o seguinte: “Sou eu, sou eu e mais ninguém”. 
Respondeu sua majestade, o Tigre:
– Tu não sabes cantar. Deverias cantar da seguinte maneira: “Somos nós, somos nós e mais ninguém”. Quando cantas “Sou eu, sou eu e mais ninguém”, não achas que estás a humilhar os outros animais? Ou pensas que só tu é que vives neste deserto? Agora ficas a saber que somos muitos. Um ocupou o teu ninho e a um outro te vens queixar. Mas ainda somos muitos mais. Tantos, que nem os conheço a todos. Agora digo-te que vás cantar: “Somos nós, somos nós e mais ninguém”, e verás que a cobra deixará os teus ovos.
Voltando a mungomba para junto do seu ninho, cantou:
– Somos nós, somos nós e mais ninguém.
A cobra, ao ouvir a mungomba cantar: “Somos nós, somos nós e mais ninguém”, levantou a cabeça e deixou os seus ovos. Então a mungomba foi até ao seu ninho, sentou-se sobre os seus ovos até os chocar e, depois, levou os seus filhos para outro lugar.
Assim aprendemos que devemos dizer:
– Somos nós, somos nós e mais ninguém, e não: “Sou eu, sou eu e mais ninguém”.
É uma chamada de atenção para a solidariedade."

Gostaste? Então, até sexta-feira! Novo país, nova história...