“O trabalho não é virtude, nem honra; antes veria nele
necessidade e condenação; é, como se sabe, consequência do pecado original.”
“A fadiga que esmaga um corpo depois de oito ou dez horas em
frente de um volante ou de um dia inteiro na faina do campo é um crime contra o
Deus que nos criou à sua imagem, um sacrilégio contra a partícula de fogo
eterno que palpita por favor dos deuses em cada um de nós (…) A reconquista do
Éden comportaria para o homem a libertação do trabalho, lavá-lo-ia dessa mancha
de animal doméstico sob o jugo, havia de o restituir ao que é o seu essencial
carácter: o ser pensante”.
Estas considerações são de um grande pensador e filósofo nascido no Porto, Agostinho da Silva (1906-1994), e encontram-se na sua obra “Ir à Índia Sem
Abandonar Portugal; Considerações; Outros Textos”.
À primeira vista parece uma contradição festejar esta data
com estes pensamentos. Mas não é. O 1.º de maio é o Dia do Trabalhador. O que
importa realçar nesta data não é o trabalho mas sim aquele ou aquela que
trabalha. Por isso, isso sim, o trabalho que escraviza, que reduz a pessoa a uma
coisa, e sobretudo a uma coisa descartável, não é digno de um ser pensante.
Há muito tempo atrás, no século IV antes de Cristo, o
filósofo Platão (427 a.C.-347 a.C.) terá dito que o homem mais não é do que um “bípede sem penas”,
ou seja, um galo depenado! Ora, uma pessoa é muito mais do que isto! É um ser
pensante que, pelo seu trabalho e pelo seu esforço, transforma a sua vida e a dos outros. Por isso é
que o trabalho é um direito. E todo aquele que trabalha tem de ser valorizado!
Esta comemoração remonta ao dia 1 de maio de 1886, quando
uma greve foi iniciada na cidade norte-americana de Chicago, com o objetivo de
conquistar melhores condições de trabalho, principalmente a redução da jornada
de trabalho diária, que chegava a ser de dezassete horas, para oito horas. Aliás,
ficou mesmo conhecida como a greve dos três oitos: oito horas para trabalhar,
oito horas para descansar e oito horas para estudar. Esta greve foi combatida pela
Polícia e dos confrontos resultaram várias detenções e mortes.
A 3 de maio, no rescaldo
dos acontecimentos, a Polícia disparou sobre os trabalhadores de Chicago
provocando um morto e vários feridos. Em resposta, no dia seguinte, quando a Polícia
voltou a aparecer para dispersar a concentração na Praça Haymarket, uma bomba
lançada por mão desconhecida mata alguns agentes e desencadeia uma verdadeira
batalha que culmina com prisões em massa e com o julgamento e condenação à
morte de oito dirigentes sindicais, acabando por morrer apenas cinco (um
suicida-se na véspera da execução e quatro serão enforcados a 11 de novembro de
1887).
Por isso, a data do início da greve foi utilizada como dia
de luta do trabalhador, data sugerida pelo Congresso da Internacional Socialista
reunida em Paris em julho de 1889. A partir daí, a sua comemoração foi-se
alastrando pelo mundo. Em Portugal foi celebrado pela primeira vez, logo em
1890 e no Monte Aventino, no Porto, com a participação de cerca de 20 mil trabalhadores
o que, para a época, era uma verdadeira multidão.
Atualmente, o 1.º de maio é o feriado mais observado em todo
o mundo. No entanto, há países que celebram o Dia do Trabalhador noutra data ou
que não o celebram de todo.
Veja-se o mapa anexo:
Dia do Trabalhador
no 1.º de maio.
Outro feriado
no dia 1.º de maio.
Sem feriado a 1 de maio, mas comemoração do Dia do Trabalhador noutra data.
Sem feriado
no dia 1.º de maio e sem Dia do Trabalhador.
BOM FERIADO!!!