16 de novembro de 1922: há 99 anos atrás nascia José de Sousa Saramago, numa família de pais e avós agricultores em Azinhaga, Golegã (embora no registo oficial apareça o dia 18), vindo a falecer, aos 87 anos de idade, vítima de leucemia crónica, em Tías, na ilha espanhola de Lanzarote, arquipélago das Canárias, a 18 de junho de 2010.
Assim, a partir de hoje, começaremos
a preparar o centenário do seu nascimento procurando dar a conhecer melhor os diversos livros escritos pelo único Prémio Nobel da Literatura português.
A sua vida foi passada em grande parte
em Lisboa, para onde a família se muda em 1924. Desde cedo demonstra interesse
pelos estudos e pela cultura. Porém, dificuldades económicas impedem-no de
fazer o currículo liceal que o levaria a frequentar a universidade. Assim
sendo, estuda numa escola técnica e consegue o seu primeiro emprego como
serralheiro mecânico.
Fascinado
pelos livros, visita, à noite, com grande frequência, a Biblioteca Municipal
Central/Palácio Galveias.
Aos 25 anos publica o primeiro
romance, “Terra do Pecado” (1947), no mesmo ano do nascimento da sua filha, Violante dos Reis Saramago, fruto do seu primeiro casamento,
em 1944, com Ilda Reis, artista plástica com quem
estará até 1970. Nessa época, Saramago era funcionário público. Posteriormente
viverá, entre 1970 e 1986, com a escritora Isabel da Nóbrega e,
em 1988, casar-se-á com a jornalista e tradutora espanhola María del Pilar
del Río Sánchez, que conhecera em 1986 e ao lado da qual viverá até
à morte.
Depois deste primeiro romance,
Saramago, membro do Partido Comunista Português, conhecido mais tarde pelo seu
ateísmo e iberismo, apresenta ao seu editor o livro “Claraboia”
que, sendo rejeitado, permanece inédito até 2011. Persiste, contudo, nos
esforços literários e, dezanove anos depois, já funcionário da Editorial
Estudos Cor, troca a prosa pela poesia, lançando “Os Poemas Possíveis”(1966), “Provavelmente Alegria” (1970) e “O Ano de 1993” (1975). Nessa altura abandona a Editorial Estudos
Cor para trabalhar no Diário de Notícias (DN) e, depois, no Diário de Lisboa. Da
experiência vivida nos jornais restam as crónicas “Deste mundo e do
outro” (1971), “A Bagagem do Viajante” (1973), “As opiniões que o DL teve” (1974) e “Os Apontamentos” (1976).
Em 1975 retorna, por dez meses, ao DN como Diretor-Adjunto, demitindo então vários funcionários até 25 de novembro do mesmo ano, quando os militares portugueses intervêm na publicação (reagindo ao que consideravam ser os excessos da Revolução dos Cravos). Quando ele próprio é demitido, resolve dedicar-se apenas à literatura, substituindo definitivamente o jornalista pelo ficcionista.
Juntamente com Luiz Francisco
Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues será,
em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da
Cultura (FNDC).
José Saramago é conhecido por
utilizar um estilo coloquial, próprio dos contos de tradição oral populares, em
que a vivacidade da comunicação é mais importante do que a correção ortográfica
de uma linguagem escrita. Todas as características de uma linguagem oral,
predominantemente usada na oratória, na dialética e na retórica servem o seu
estilo interventivo e persuasivo. Assim, utiliza frases e períodos compridos,
usando a pontuação de uma maneira não convencional e os diálogos das
personagens são inseridos nos próprios parágrafos que os antecedem, de forma
que não existem travessões nos seus livros. Este tipo de marcação das falas
propicia uma forte sensação de fluxo de consciência, a ponto do leitor chegar a
confundir-se se um certo diálogo é real ou apenas um pensamento. Muitas das
suas frases ocupam mais de uma página, usando vírgulas onde a maioria dos escritores
usaria pontos finais da mesma forma que muitos dos seus parágrafos ocupariam
capítulos inteiros em outros autores.
A 29 de junho de 2007 constitui a Fundação José Saramago para a defesa e difusão da Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos problemas do meio ambiente.
Falecido a
18 de junho de 2010, foi cremado no Cemitério
do Alto de São João, sendo as suas cinzas enterradas, no primeiro aniversário
da sua morte, junto a uma oliveira, num canteiro à frente da Casa dos Bicos, em Lisboa, sede da Fundação com o seu nome (a
qual abrirá ao público em 2012, presidida pela sua viúva Pilar del Río).
Ganhou, entre outros, o Prémio Camões em 1995 e o Prémio Nobel de Literatura em 1998. A 24 de agosto
de 1985 foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 3 de dezembro
de 1998 foi elevado a Grande-Colar
da mesma Ordem, uma honra geralmente reservada apenas a Chefes de
Estado.