23 de junho de 2020

Posted by Biblioteca de E.B.2,3 de Paço de Sousa in | junho 23, 2020


Suspendemos hoje, nesta última semana de aulas, esta rubrica na qual, à terça-feira, lembrámos ou demos a conhecer algumas figuras de estilo. 
Hoje, neste oitavo e último apontamento, falaremos então de zeugma.


Este recurso de estilo consiste no facto de uma palavra, já expressa numa proposição, se subentender noutra ou noutras que com a primeira têm analogia ou relação.
Confuso?


Vamos explicar melhor: o zeugma, que etimologicamente vem do grego zeygma, que quer dizer “ligação”, “vínculo”, “conexão”, é a figura de linguagem que pode ser considerada um caso particular da elipse. 


A elipse consiste na omissão de palavras ou expressões que, no entanto, são facilmente subentendidas (é o que acontece, por exemplo, no ditado popular “Muito riso, pouco siso” em que se subentende que, onde há muito riso, há também pouco siso).


O zeugma, porém, caracteriza-se pela omissão de palavras ou expressões anteriormente expressas no período. A repetição do termo fica subentendida, sem que isso prejudique a compreensão da ideia.

Tomemos alguns exemplos de zeugma:




“Eu gosto de morango e de melancia também.”

Nesta frase, a repetição do verbo “gosto” está implícita, mas conseguimos entender a frase tão bem como se estivesse escrito: “Eu gosto de morango e gosto de melancia também”.




“Eu chego cedo sempre, só não quando estou sem carro.”

Aqui, a expressão “chego cedo” foi omitida. Se ela estivesse explícita, seria assim: “Eu chego cedo sempre, só não chego cedo quando estou sem carro”.



“Desembrulha essa prenda enquanto eu desembrulho a outra.”

Neste exemplo, “a outra” indica que a palavra “prenda” foi omitida. Sem o zeugma, teríamos uma repetição desnecessária, que até chega a incomodar: “Desembrulha essa prenda enquanto eu desembrulho a outra prenda”.




“Abriu os olhos; primeiro um olho, depois o outro.”

Neste exemplo, o “olho” foi omitido. Sem o zeugma, teríamos: “Abriu os olhos; primeiro um olho, depois o outro olho.”




“Ele anda de mota, ela também.”

Neste exemplo, a expressão “anda de mota” foi omitida. Sem o zeugma, teríamos uma repetição desnecessária: “Ele anda de mota, ela também anda de moto”.




“Meus amigos adoram praia, e eu também.”

Neste exemplo temos um caso especial de zeugma a que se dá o nome de zeugma complexo, o qual é caracterizado pela omissão de uma palavra que, no ponto em que está oculta, tem flexão diferente daquela que apresenta a palavra explícita.

Repare-se que está subentendida a repetição da ideia de adorar praia. Porém, no ponto em que o verbo adorar está oculto, a flexão é diferente: de “adoram” para “adoro”. Assim, se as duas formas verbais estivessem explícitas, a frase seria assim: “Meus amigos adoram praia, e eu também adoro praia”.



            “Em casa eu leio romances; ela, livros científicos.”

Outro exemplo de zeugma complexo. Aqui está subentendida a repetição da ideia de ler. Porém, no ponto em que o verbo ler está oculto, a flexão é diferente: de “leio” para “lê”. Assim, se as duas formas verbais estivessem explícitas, a frase seria assim: “Em casa eu leio romances; ela,  livros científicos.”


Então, agora já deu para perceber?

Durante as férias, vamos propor um desafio: tentar, em cada dia, utilizar uma das oito figuras de estilo dadas. 


Se soubermos as diferenças, conseguimos. Se não, não conseguimos.

Olha! Fizemos um zeugma com a expressão “soubermos as diferenças”: “Se soubermos as diferenças, conseguimos. Se não soubermos as diferenças, não conseguimos.”

Boas Férias para todos!