Suspendemos
hoje, nesta última semana de aulas, esta rubrica na qual, à terça-feira,
lembrámos ou demos a conhecer algumas figuras de estilo.
Hoje, neste oitavo e último
apontamento, falaremos então de zeugma.
Este recurso de estilo consiste no
facto de uma palavra, já expressa numa proposição, se subentender noutra ou
noutras que com a primeira têm analogia ou relação.
Confuso?
Vamos explicar melhor: o zeugma, que
etimologicamente vem do grego zeygma, que quer dizer “ligação”,
“vínculo”, “conexão”, é a figura de linguagem que pode ser considerada um caso
particular da elipse.
A elipse consiste na omissão de palavras ou expressões que,
no entanto, são facilmente subentendidas (é o que acontece, por exemplo, no
ditado popular “Muito riso, pouco siso” em que se subentende que, onde há muito
riso, há também pouco siso).
O zeugma, porém, caracteriza-se pela
omissão de palavras ou expressões anteriormente expressas no período. A
repetição do termo fica subentendida, sem que isso prejudique a compreensão da
ideia.
Tomemos alguns exemplos de zeugma:
“Eu gosto de morango e
de melancia também.”
Nesta frase, a repetição do verbo
“gosto” está implícita, mas conseguimos entender a frase tão bem como se
estivesse escrito: “Eu gosto de morango e gosto de melancia
também”.
“Eu chego cedo sempre,
só não quando estou sem carro.”
Aqui, a expressão “chego cedo” foi
omitida. Se ela estivesse explícita, seria assim: “Eu chego cedo sempre,
só não chego cedo quando estou sem carro”.
“Desembrulha essa prenda enquanto eu desembrulho a outra.”
Neste exemplo, “a outra” indica que a
palavra “prenda” foi omitida. Sem o zeugma, teríamos uma repetição
desnecessária, que até chega a incomodar: “Desembrulha essa prenda enquanto eu desembrulho a outra prenda”.
“Abriu os olhos;
primeiro um olho, depois o outro.”
Neste exemplo, o “olho” foi omitido.
Sem o zeugma, teríamos: “Abriu os olhos; primeiro um olho, depois o outro
olho.”
“Ele anda de mota,
ela também.”
Neste exemplo, a expressão “anda de mota” foi
omitida. Sem o zeugma, teríamos uma repetição desnecessária: “Ele anda
de mota, ela também anda de moto”.
“Meus amigos adoram
praia, e eu também.”
Neste exemplo temos um caso especial de
zeugma a que se dá o nome de zeugma complexo, o qual é caracterizado pela
omissão de uma palavra que, no ponto em que está oculta, tem flexão diferente
daquela que apresenta a palavra explícita.
Repare-se que está subentendida a
repetição da ideia de adorar praia. Porém, no ponto em que o verbo adorar está
oculto, a flexão é diferente: de “adoram” para “adoro”. Assim, se as duas
formas verbais estivessem explícitas, a frase seria assim: “Meus amigos adoram
praia, e eu também adoro praia”.
“Em
casa eu leio romances; ela, livros científicos.”
Outro exemplo de zeugma complexo.
Aqui está subentendida a repetição da ideia de ler. Porém, no ponto em que o
verbo ler está oculto, a flexão é diferente: de “leio” para “lê”. Assim, se as
duas formas verbais estivessem explícitas, a frase seria assim: “Em casa eu leio romances; ela, lê livros científicos.”
Então, agora já deu para perceber?
Durante as férias, vamos propor um
desafio: tentar, em cada dia, utilizar uma das oito figuras de estilo dadas.
Se
soubermos as diferenças, conseguimos. Se não, não conseguimos.
Olha! Fizemos um zeugma com a
expressão “soubermos as diferenças”: “Se soubermos as diferenças,
conseguimos. Se não soubermos as diferenças, não conseguimos.”
Boas Férias para todos!